quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Caderno de Resumos IX SACS

IX SEMANA ACADÊMICA DE
CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIOESTE



CADERNO DE RESUMOS
(Resumos de trabalhos que serão submetidos à Comunicação Oral nos GT’s e publicação nos ANAIS)







EIXO: TRABALHO E MOVIMENTOS SOCIAIS


TRABALHADORES E TRABALHO INDUSTRIAL: MODIFIÇÕES NAS RELAÇÕES DE TRABALHO EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON-PR (1990-2010)

Fagner Guglielmi Pereira
Graduando do Curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon-PR
Guilherme Dotti Grando
Graduando do Curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon-PR

Esta comunicação tem por objetivo apontar algumas reflexões sobre as relações de trabalho atuais referente ao processo de industrialização recente em Marechal Cândido Rondon-PR. Para isto, foi preciso entender o processo de formação industrial entre os anos 1990-2010. O desenvolvimento industrial, não somente em Marechal Cândido Rondon, mas também na região Oeste do Paraná, transformou rapidamente as relações de trabalho de inúmeros trabalhadores. A instalação das primeiras indústrias alimentícias e de fábricas de ração data sua atividade no início da década de 70, se consolidando a partir de 1980. Na entrada da década de 90 a principal atividade industrial ainda era voltada para o beneficiamento de grãos para ração. A partir dos anos 90 e início dos anos 2000 houve instalação de frigoríficos, indústrias de beneficiamento do leite e biscoitos. A introdução dessas indústrias em Marechal Cândido Rondon-PR alterou novamente as relações de trabalho dos trabalhadores. A constituição de empresas alimentícias no município de Marechal Cândido Rondon-PR remodelou, sobretudo, a relação entre capital e trabalho e intensificou suas contradições. Houve, em decorrência da instalação das indústrias alimentícias, grande intensificação do trabalho industrial e, por conseguinte, transformações nas relações de trabalho existentes. A rotatividade no trabalho, a baixa remuneração dos trabalhadores, as doenças no trabalho fabril, ao que indica, formou um novo perfil da força de trabalho industrial neste município. Entretanto, a constituição de um perfil novo de força de trabalho industrial é, sobretudo, o resultado do expressivo crescimento do trabalhador urbano somado a intensificação do ritmo do trabalho nestas últimas três décadas. Os empregos gerados pela indústria de beneficiamento de leite, de biscoitos e mais recentemente de carne de frango, foram amplamente divulgados como possibilidade de “emprego fácil”, especialmente a partir dos anos 2000.
Para levantar as hipóteses ressaltadas até aqui, foram entrevistados trabalhadores de duas gerações. Os trabalhadores que experimentaram relações de trabalho vivenciadas na década de 80 e 90 identificam diferentes sentidos do trabalho, em comparação a uma geração de trabalhadores que assumiram relações de trabalho mais intensificadas, a partir dos anos 2000. As implicações deste trabalho intensificado geraram modos de vida influenciados pelo trabalho na indústria. No entanto, as implicações deste trabalho degradado, não são alheias à percepção dos trabalhadores. Os meios de existência, portanto de trabalho, em Marechal Cândido Rondon-PR, têm demonstrado uma progressão do trabalho qualitativamente inferior em relação ao início do processo de constituição industrial das décadas que finalizaram o século XX. Essa compreensão é, acima de tudo, importante para desmistificar algumas concepções, produzidas no campo dominante, que vêem o processo de industrialização recente em Marechal Cândido Rondon-PR, como resultado de um suposto “desenvolvimento” e “progresso”.
O modo de vida encontrado pelos trabalhadores das indústrias, em Marechal Cândido Rondon-PR, é herdado de grandes transformações nas relações de trabalho existentes. A partir disto, é possível, entretanto, identificar as implicações do trabalho na indústria. Os sentidos que os trabalhadores conferem ao meio de sua existência no mundo são apreendidos por eles negativamente, de modo que encontrar trabalho nas indústrias de alimentos em Marechal Cândido Rondon-PR não é tarefa difícil.


AS RELAÇÕES DE CONSUMO NA FRONTEIRA BRASIL – PARAGUAI: O PARAÍSO DAS COMPRAS.

Luana Caroline Künast Polon
Graduanda do Curso de Licenciatura em Geografia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) – Campus de Marechal Cândido Rondon.  Bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID).
Paulo Henrique Heitor Polon
Graduado em Licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Acadêmico do Bacharel em Ciências Sociais – UEL

A sociedade atual pode ser caracterizada como uma “Sociedade de Consumo”, devido à importância que o consumismo assumiu nas relações sociais e com o meio. O indivíduo permite-se manipular sem que perceba, suas escolhas de consumo são moldadas de acordo com os interesses das empresas produtoras das mercadorias. Nesse processo o consumismo possui um forte aliado, que são os meios de comunicação de massa, como a televisão. Por meio das propagandas e das programações televisivas o telespectador é influenciado em suas escolhas de consumo. Também é relevante a questão referente às mudanças na forma como se dão as relações interpessoais na sociedade de consumo, com os laços fragilizados. Sendo que as pessoas tratam seu semelhante como mercadoria, e tornam-se elas mesmas também produtos a disposição no mercado, esperando para que possam ser consumidas. Isso é fruto da natureza capitalista, que no começo apenas transformaria o trabalho em mercadoria, mas a consequência foi a transformação dos próprios homens em produtos mercadológicos. Na fronteira entre o Brasil e o Paraguai as relações de consumo se mostram ainda mais significativas, devido à facilidade que os brasileiros têm de comprar em lojas paraguaias. Isso faz com que para muitos, a fronteira seja considerada o paraíso das compras, onde o consumismo se mostra ainda mais expressivo. Os preços baixos e a variedade de produtos à disposição do comprador são as características mais importantes para a fácil comercialização dos produtos paraguaios. Essa vantagem de baixos custos das mercadorias se comparado ao Brasil se dá devido ao fato dos tributos pagos serem menores, enquanto em nosso país pagamos valores exorbitantes de impostos, em terras paraguaias estes são irrisórios. Além de não haver uma fiscalização tão rígida como no Brasil, muitos produtos comercializados no Paraguai não possuem qualidade. Para algumas pessoas o consumismo se tornou diversão em terras paraguaias, vão com o intuito de passar o tempo e consumir mercadorias a custos baixos, não percebem o quanto o ato de consumir já está presente em suas vidas, consomem sem necessidade em busca da satisfação momentânea que o consumo proporciona. Para os moradores do oeste paranaense a situação é ainda mais cômoda, pela proximidade com a fronteira, o que facilita as idas e vindas ao país vizinho. Diariamente milhares de pessoas cruzam a fronteira em busca de produtos diversos, principalmente eletrônicos. Existe ainda a questão dos “sacoleiros”, que buscam produtos mais baratos no Paraguai, para posteriormente vender no Brasil e lucrar com isso. Escolhem cruzar a fronteira e assumem os riscos, como forma de trabalho.
As relações de consumo transformam a fronteira, são milhares de pessoas que buscam principalmente em feriados e finais de semana, consumir coisas no Paraguai. A economia brasileira é afetada devido às facilidades de comprar no país vizinho, e há uma desvalorização do produto interno. O padrão de consumo adotado pelos brasileiros está se mostrando problemático, as relações de consumo transformam a sociedade e alteram o meio. Por isso existe a necessidade de se pensar até que ponto a sociedade consome e, quando passa a ser consumida?


ANÁLISE HISTÓRICO-ESTRUTURAL DA FORMAÇÃO DO MERCADO DE TERRAS NO BRASIL

Autor: Werner Engel
Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus de Toledo. Professor do curso de Ciências Contábeis da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus Marechal Cândido Rondon.
Co-autor: Leandro de Araújo Crestani
Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus de Toledo. Pesquisador do Grupo Cultura, Fronteira e Desenvolvimento Regional (UNIOESTE)

O objetivo desse trabalho é fazer uma análise histórico-estrutural da formação do mercado de terras no Brasil. Compreendendo que a estrutura agrária iniciou-se com a doação de terras pelas companhias hereditárias, onde os colonos não eram proprietários de terras, tendo como principal objetivo a exploração econômica e o desenvolvimento da agricultura. Outro fator indagado no artigo é a formação do mercado de terras, através das políticas governamentais do ano de 1850, e principalmente na proibição do tráfico representando o estopim para o fim da escravidão no Brasil, resultando, ao mesmo tempo, na elevação do preço dos escravos e na desvalorização do seu trabalho em longo prazo. A Lei de Terras de 1850 foi elaborada para colocar restrições do acesso à terra em todo o mundo colonial do Brasil. Criando condições para que a terra  no Brasil fosse acessível apenas para as pessoas com  recursos financeiros, dessa forma, surgiu proletarização dos imigrantes e ex-escravos em nosso território. Concluímos a que a Lei de Terras de 1850 contribuiu na criação das terras como propriedade tornando uma “mercadoria e capital imobilizado” que substituiu o escravo que era essa forma de capital desse período, ou seja, a terra tornando-se um ativo de produção e reserva de valor no Brasil.


INTERCORRÊNCIAS ENTRE A PERCEPÇÃO DOS EMPREGADOS E A FRAGMENTAÇÃO DO TRABALHO A PARTIR DE MODELO ADMINISTRATIVO EM UNIDADES DE SERVIÇO: UM ESTUDO DE CASO.

Isabela Mastelini Moyses
Graduanda do Curso de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina - UEL
Olegna de Souza Guedes
Doutora em Serviço Social pela PUC-SP
Docente do departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina - UEL

O presente artigo traz resultados da primeira parte de uma pesquisa que tem como objeto a materialização de uma das formas de alienação (a que se refere a não identificação do trabalhador como membro de uma equipe que gera valo-trabalho) em uma empresa de prestação de serviços de saneamento. O objetivo é identificar de que forma os funcionários da Companhia de Saneamento do Paraná-SANEPAR interpretam a importância de suas atividades para a comunidade diante de uma estrutura organizacional que divide as atividades em diferentes unidades de prestação de serviços. O interesse pelo tema surgiu a partir do estudo da alienação em sua tradução marxiana desenvolvido durante a participação na pesquisa ”A categoria liberdade: uma análise de sua interpretação na crítica marxiana e de sua apreensão como princípio posto no código de ética profissional dos assistentes sociais” e do desenvolvimento de estágio curricular na referida Companhia. Desta última experiência emergiu a  necessidade de buscar fundamentos teóricos para interpretar situações identificadas na Companhia: a identificação da falta de integração entre as equipes de trabalho apontada, dentre outros momentos, em relatos dos próprios funcionários.
Utiliza-se como categoria essencial para a pesquisa a alienação em sua tradução marxiana. Considera-se que o que os funcionários traduzem como falta de integração revela, entre outras mediações, uma das formas da alienação inerente ao processo produtivo no modo de produção capitalista. Dessa forma, busca-se compreender a alienação que se traduz como falta de integração entre equipes de funcionários da empresa. A pesquisa tem uma abordagem de natureza qualitativa e se configura um estudo de caso. Em um primeiro momento, para a atual fase da pesquisa, realizou-se uma revisão bibliográfica e documental a respeito da companhia para compreender a base da fragmentação de equipes na empresa a partir da análise de sua trajetória e de sua estrutura organizacional. Em sequência uma revisão bibliográfica a respeito da alienação em sua tradução marxiana, categoria central da pesquisa. Os autores que embasaram essa construção teórica foram Marx, Mészáros e Lucáks. Em um segundo momento, subsequente a este,  será realizada uma pesquisa de campo através de uma entrevista semi estruturada com funcionários dessa companhia para analisar as percepções que eles têm do processo de alienação a que estão submetidos. Entretanto, com resultados que ora apresentamos, já foi possível perceber a natureza da fragmentação do trabalho na Sanepar, a qual se dá pelo próprio processo de alienação inerente ao processo produtivo no modo de produção capitalista e pela fragmentação das atividades de trabalho em um modelo de gestão voltado para o lucro e para a produtividade em detrimento da valorização dos serviços prestados pelos funcionários. Observa-se a não identificação dos funcionários da empresa como sujeitos sociais membros de uma mesma equipe que em cooperação presta um serviço essencial para uma dada sociedade, e que em conjunto tem o mesmo objetivo: levar serviços de saneamento aos paranaenses. A partir disso, percebe-se que esses funcionários são alienados do processo produtivo do qual fazem parte e, ao não se perceberem no produto do trabalho que realizam, são alienados do fruto do seu trabalho.


MIGRAÇÃO DOS JOVENS RURAIS PARA AS ÁREAS URBANAS E OS EFEITOS SOBRE A MANUTENÇÃO DO CAMPESINATO PARCELAR: ANÁLISES PRELIMINARES EM PALMA SOLA/SC.

Rodrigo Kummer
Mestrando do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Ciências Sociais da UNIOESTE/ Campus de Toledo/PR

Este artigo analisa a dinâmica de manutenção da agricultura familiar rural em um município do interior catarinense tendo em vista o alto índice de êxodo entre os jovens. Elencamos como análise dessa problemática a avaliação do processo do êxodo no município de Palma Sola/SC, localizado na região extremo oeste do estado de Santa Catarina. Município constituído pelo processo colonial teve sua base econômica e demográfica pautada na agricultura e no setor rural. Fato este que parece inverter-se na última década. Percebe-se o grande contingente de propriedades desalojadas e também o paradoxo do esvaziamento dos sucessores das propriedades rurais, isto é, dos jovens que seriam os herdeiros da atividade familiar em curso. Constata-se que até o início da década de 1970 havia um modelo de manutenção e continuidade sucessional dos filhos, vinculada a solidariedade de toda família em torno da constituição das novas propriedades. A partir dessa data o processo de modernização da agricultura desagrega grande número dos filhos das atividades agrícolas, uma vez que o baixo retorno monetário obtido na atividade passa a inviabilizar a reprodução dos novos núcleos.  Fato este que paulatinamente encaminhou os jovens do meio rural a uma dinâmica de migração para o meio urbano, tendo em vista a visão de que neste espaço as oportunidades de ascensão social e econômica estariam mais especificamente garantidas. A prevalência dessa migração rural-urbana, impulsionada entre os jovens demonstra o grau de dificuldade de reprodução da agricultura familiar. Percebe-se que no município de Palma Sola/SC a população foi hegemonicamente rural até o ano 2000, daí em diante ocorre uma inversão nesse padrão de local de domicílio. Além disso, o contingente total da população vem, também, decrescendo. Entre a população que deixa o campo com destino a cidade é efetivamente maior o número de jovens. As atividades desenvolvidas no meio urbano, principalmente no setor de serviços (bares, restaurantes, trabalhos domésticos, etc.) ocupam espaço preferencial entre os jovens filhos de agricultores. O acesso à renda parece ser preponderante na decisão de deixar o campo, embora fatores como ingresso a níveis mais elevados de educação; melhores condições de trabalho; maior independência com relação ao núcleo familiar e, enfim, a real possibilidade de ascensão social parecem ser decisivas. Obviamente que vários fatores possam estar ligados e de forma diferenciada ao processo da saída do campo, mas o fato tácito é de que a permanência na atividade agrícola se coloca cada vez menos como uma possibilidade efetiva para os jovens de ambos os sexos, principalmente para as mulheres. O discurso efetivo que pretende reforçar a permanência do homem no campo e, portanto, manter os jovens como sucessores na atividade, elege uma série de ganhos sociais. Entretanto, percebe-se certa mistificação, já que muitos dos problemas estruturais verificados no campo não são compreendidos como demandas de ação política, principalmente no que concerne aos jovens.
Buscamos, portanto, com base nos dados do fluxo migratório, discutir os impactos do êxodo rural, principalmente dos jovens, com relação ao espaço de sociabilidade rural. Num primeiro momento discutimos a constituição de um modelo tradicional da reprodução da agricultura familiar rural na região extremo oeste de Santa Catarina. Posteriormente demonstramos com base nos dados demográficos o quadro de dissolução dessa reprodução, problematizando os fatores envolvidos e delimitando os principais motivos do êxodo. Por fim analisamos até que ponto o êxodo ameaça a reprodução desse modo de organização social, econômico e cultural agrícola e a identidade dos agricultores, levantando a discussão tanto da idealização, quanto das estratégias efetivas da permanência/manutenção dos jovens no meio rural.


USOS E ABUSOS DA PROPRIEDADE NO BRASIL: LEI DE TERRAS DE 1850

Leandro de Araújo Crestani
Mestrando em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)/Campus de Toledo. Pesquisador do Grupo Cultura, Fronteira e Desenvolvimento Regional (UNIOESTE)

O presente artigo procura discutir o direito agrário no Brasil a partir da criação da Lei n. 601 de 18 de setembro de 1850 (Lei de Terras). O ensaio está baseado na História Agrária visando analisar estrutura social rural, ou seja, a forma de apropriação e uso da terra e às condições jurídicas e sociais da Lei de Terras de 1850. Apontando que Lei de Terras visava impedir a proliferação da pequena propriedade (Minifúndio) no território brasileiro. Assim, podemos perceber que essa Lei teria servido exclusivamente para garantir a propriedade da terra para os grandes latifundiários. Contudo, a “Lei de Terras de 1850” não apenas transformou a terra em mercadoria, como impossibilitou o seu acesso a todos que não tivessem dinheiro para adquiri - lá. Ou seja, as conseqüências dessa lei para os trabalhadores livres e os libertos da escravidão, foi que só poderiam subsistir na agricultura mediante a venda de sua força de trabalho aos proprietários das terras e do capital. A Lei de Terras de 1850, destinava-se a impedir o livre acesso à terra, o principal meio de produção nas sociedades pré-industriais, tanto aos ex-escravos como para os trabalhadores imigrantes. O mercado de terra no Brasil começou a se constituir a partir de 1850, uma vez que ficou estabelecido que o acesso à imensidade de terras existentes no país seria realizado somente através da “compra”. A partir da Lei de Terra que a propriedade passa a ter expressão monetária, e que se generaliza seu caráter de ativo transacionado no mercado.


TRABALHO E TRABALHADORES DA FIDELITÁ

Gilvana Machado Costa
Graduanda em História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon

A pesquisa que venho desenvolvendo propõe investigar as relações de trabalho estabelecidas na indústria de confecção no Oeste paranaense recorrendo à literatura especializada e desenvolvendo estudo de caso sobre as trabalhadoras da fábrica de lingerie Fidelitá, sediada na cidade de Marechal Cândido Rondon. As questões pesquisadas dizem respeito ao entendimento do processo de industrialização recente na região e à percepção da organização do trabalho vivenciadas pelas trabalhadoras da Fidelitá. Para tanto, se fez necessário um levantamento da bibliografia especializada sobre a indústria têxtil, mais especificamente do setor têxtil da região oeste do Paraná. As fontes utilizadas constam de bibliografia específica, estatísticas sobre o trabalho e a ocupação no âmbito da região e da cidade selecionada, e entrevistas com trabalhadoras. A relevância desta indústria já foi demonstrada em pesquisas sobre o Oeste e Sudoeste do Paraná (Franco, 2005; Ipardes, 2006; Rodrigues, 2009) e, em menor proporção, há estudos que investigam as condições de trabalho percebidas pelas trabalhadoras envolvidas (Carvalhal, 2009; Christ, 2008), fazendo, dessa presença das costureiras no mundo do trabalho, uma questão importante. Estatisticamente, o trabalho nas indústrias de confecção no Oeste do Paraná é algo bastante visível. Conforme informações do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED/RAIS/MTE), no período de 2004 a 2009, o movimento de contratação e desligamento no mercado de trabalho (formal) da micro-região de Toledo[1] registrado para “costureiro na confecção em série” ocupou a nona posição. Tomando como referência o ano de 2008, a cidade com o maior número de admissões e desligamentos de costureiras é Toledo (1.462), seguida de Terra Roxa (1.118), Santa Helena (590) e Marechal Cândido Rondon (334), embora os percentuais destes números relacionados ao total de empregos mostrem outro ordenamento, deixando Terra Roxa com 36%, Santa Helena com 17,7%, Toledo com 4% e Marechal com 2,3%, respectivamente. Afora o fato de destaque dessa indústria em Terra Roxa (especializada na confecção de vestuário), nota-se uma singularidade na configuração desta indústria em Marechal Cândido Rondon, cuja força de trabalho encontra-se concentrada numa mesma indústria responsável por aproximadamente 60% dos postos de trabalho neste setor (cerca de 200 postos), a Fidelitá. É neste ponto que encontramos um problema específico a ser estudado: quais são as relações de trabalho que caracterizam um espaço fabril com até 200 trabalhadoras? Sabemos que a força de trabalho recrutada para esta indústria é jovem e, geralmente, sem experiência de trabalho fabril anterior.
Além desta questão, como parte dos objetivos do projeto, tenho por finalidade compreender como esta indústria de lingerie se constitui em Marechal Cândido Rondon diante de uma “propaganda” voltada para a indústria alimentícia. Esta “propaganda” se dá a partir de um fator que tem sido analisado nos últimos anos que são os Arranjos Produtivos Locais (APLs). Até o momento, esses arranjos, têm se apresentado como um complexo de relações voltadas para o desenvolvimento econômico de regiões, constituindo-se numa organização de parte do capital com o apoio de organizações estatais e federais. Ao estudar as relações de trabalho experienciado por trabalhadores de uma confecção é percebido que essas questões que envolvem o espaço de trabalho não se restringem só a esse espaço, é possível visualizar que relações de fora da fábrica interferem internamente, a minha tentativa é tentar perceber/compreender como essa interferência altera as relações do chão da fábrica e como o trabalho passa a significar para os trabalhadores. Tenho por objetivo compreender, também, como o trabalhador atua nesse processo e como ele percebe certos “atrativos” que a Fidelitá tem desenvolvido para, de certa forma, competir com a propaganda que tem sido veiculada de que Marechal Cândido Rondon é o novo pólo industrial alimentício da região Oeste do Paraná.


EIXO: CULTURA, FRONTEIRAS E IDENTIDADE

(01) “ANDAR ARRUMADINHO É MAIS MASSA”: UM ESTUDO SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE IDENTIDADE E CONSUMO DE MODA/INDUMENTÁRIA NO INTERIOR DE UM GRUPO DA PERIFERIA URBANA DE PARANAGUÁ – PR

Tiago Pereira Leite
Mestrando do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Ciências Sociais da UNIOESTE/Campus Toledo
Eliane Cardoso Brenneisen
Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), professora do Programa de mestrado em Sociedade Cultura e Fronteiras e do Programa do Mestrado em Ciências Sociais da Unioeste

Este trabalho analisa aspectos da formação da identidade social de um grupo específico, procurando desvendar, no seu processo de constituição, as relações possíveis com o consumo de moda/indumentária. Para tanto, orienta-se pela literatura definindo brevemente o que se entende por identidade, destacando a importância do processo de socialização nesse processo. Discorre sobre a juventude e a pertinência de se observar o fenômeno juventude não como categoria homogênea, mas a partir da perspectiva de culturas juvenis diferenciadas entre si. Apresenta ainda o conceito de consumo com o qual se pretende trabalhar, qual seja uma categoria de analise cultural, que na contemporaneidade torna-se fundamental na discussão sobre identidades. Por fim analisa-se um estudo de caso realizado em Paranaguá, estado do Paraná. A pesquisa de campo abordou um grupo composto por seis jovens do sexo masculino moradores do bairro Parque São João. Os resultados obtidos por meio de entrevistas semi-diretivas e observação participante apontaram o consumo de moda/indumentária como elemento essencial no processo de identificação e construção da identidade social do grupo investigado. Relações de gênero também são elementares para a afirmação das subjetividades desses indivíduos. “Pegar” as meninas é um momento crucial e estabelece prestígio. “Andar arrumadinho é mais massa” por colocar o sujeito em evidência para o grupo de referência e para as meninas. A construção da masculinidade dos jovens que compõe o grupo está intimamente ligada ao numero de parceiras com quem se relacionam. Quanto à identidade do grupo, as observações mostram que ela se dá por oposição a outro grupo particular, a saber: os “playboys” do centro. Na fronteira das relações entre esses dois grupos se estabelece a identidade do grupo estudado que se reconhece como “vida louca”. Além da fronteira física que se estabelece entre “o bairro da periferia” e “o centro”, há outra fronteira que é cultural e muito mais tênue, observável nas relações que esse dois grupos estabelecem entre si. Consumir moda/indumentária para o “vida louca” é uma forma de resistir às classificações depreciativas sofridas, e na disputa por status social, a vestimenta é uma forma prática de identificação e diferenciação. Conclui-se destacando as contradições e o caráter conflitivo do processo, bem como a necessidade de estudos mais amplos focalizando o uso corpo no espaço da cidade; mídia e formação de marcas para jovens; relações de gênero no espaço de periferia; música, mp3 e aparelhos celulares como elementos de distinção dentro do grupo, entre outros aspectos, os quais são imprescindíveis para uma compreensão mais aprofundada do processo de construção da identidade em relação ao consumo.


(02) A IDENTIDADE DO OUTRO LADO DA FRONTEIRA: UM ESTUDO SOBE A IDENTIDADE DOS FILHOS DE IMIGRANTES BRASILEIROS NASCIDOS NO PARAGUAI

Andressa Back
Licenciada em História pela Faculdade União das Américas – UNIAMÉRICA

Este trabalho tem por finalidade estabelecer um estudo sobre a construção da identidade dos filhos de imigrantes brasileiros que nasceram e vivem no Paraguai. O processo migratório dos brasileiros ao país vizinho ocasionou o aparecimento de novos questionamentos acerca da identidade cultural dos indivíduos localizados em regiões fronteiriças. Nessa perspectiva destacam-se identidade(s) em movimento que se estabelece(m) de acordo com questões estratégicas e de conveniências para esses sujeitos. Para a compreensão de tal problemática será discutida as origens da migração brasileira para esse país, o conceito de fronteira, destacando a do Brasil – Paraguai e o aparecimento do termo “brasiguaio” – este que está atrelado a claras disputas políticas e econômicas na região. As representações de identidade dos “brasiguaios” se relacionam com tal problemática, e as práticas culturais de construção identitária dos grupos envolvidos são postas em evidência. Trabalhar a identidade dos filhos de imigrantes brasileiros e não dos próprios imigrantes se justifica por se tratar de um tema que é novo, no qual a proposta de trabalhar com os descendentes de brasileiros se mostra pertinente no sentido de possibilitar novos estudos acerca da identidade desses “brasiguaios”. A escolha de tal tema aconteceu pelo interesse acadêmico de compreender essa problemática vizinha que nos afeta como habitantes da fronteira e que atualmente vem sendo muito discutida, tanto no meio acadêmico, como no cotidiano social da comunidade de Foz do Iguaçu. O conceito de Identidade é sempre muito atual, até porque é um conceito fluído que constantemente se faz e refaz. Suas relações e complexidades podem ser visualizadas em todas as sociedades, principalmente nas regiões de fronteira, como ocorre entre o Brasil e o Paraguai. A pesquisa foi desenvolvida metodologicamente a partir de depoimentos coletados na região de Santa Rita e Los Cedros I, distritos pertencentes ao departamento do Alto Paraná. A cidade de Santa Rita foi escolhida, principalmente, por ser considerada “O Brasil dentro do Paraguai” afirmação que impulsionou a pesquisa à pertinentes problematizações, uma vez que, a proposta era exatamente discutir a construção da identidade dos descendentes brasileiros nascidos no Paraguai em território de explícitas influências culturais brasileiras. A pesquisa foi desenvolvida metodologicamente a partir de depoimentos coletados na região citada acima, com um grupo de sete entrevistados, três mulheres e quatro homens que pertencem a categoria de 16 a 40 anos, filhos de imigrantes brasileiros que nasceram e moram no Paraguai – por ser o foco da pesquisa discutir a identidade dos filhos de imigrantes brasileiros, a escolha da grupo não poderia ser diferente –.  A organização metodológica da pesquisa ressalta a sua pretensão de trabalhar no entorno da atualidade e do cotidiano dos “brasiguaios”, sendo este um dos caminhos encontrados para se obter maior contato e um melhor aproveitamento do tema através desses depoimentos. Procurou-se conhecer a opinião destes filhos de imigrantes referente à sua representação identitária e como esta identidade cultural é construída cotidianamente atrelada a questões estratégicas de “sobrevivência”. Para isso foram formuladas algumas questões pertinentes à problemática exposta no artigo, a fim de possibilitar reflexões e problematizações à pesquisa, entre essas: Quem são os brasiguaios? Como se dá o processo de construção da identidade cultural nos filhos de imigrantes brasileiros que vivem no Paraguai? De que forma eles se representam quanto a sua identidade cultural? “Brasiguaios” é um termo usado pelos brasileiros “externos” a essa problemática no intuito de definir quem nasceu no Paraguai ou migrou para o país, ou então, corresponde a um termo usado pelos sujeitos que se identificam desta maneira? Na atualidade essa identidade “brasiguaia” é construída constantemente nos momentos de conflito, mas também de integração entre os sujeitos sociais da região. A utilização desse termo acontece de modo variado e por vezes revela sua ambiguidade, pois em um único discurso o termo é empregado para caracterizar dois grupos no Paraguai: os imigrantes e seus filhos nascidos no país. Na maioria das vezes, o termo é empregado de maneira generalizada, basicamente para definir quem estabelece ou estabeleceu relações com a cultura paraguaia. A partir da pesquisa de campo, foi possível afirmar que o processo de construção da identidade dos descendentes de imigrantes brasileiros nascidos no Paraguai se dá através da discussão de identidade estratégica ou por conveniência, ou seja, as representações identitárias se constituem de variadas formas e em diversas situações. As identidades são ocultadas e enfatizadas, sobretudo num jogo de interesses políticos e conveniências. A ideia de identidade situacional deve ser compreendida, sobretudo como um mecanismo estratégico utilizado por esses sujeitos em meio a tantas tensões e conflitos que ameaçam a estabilidade das relações sociais e a própria habitação destes no Paraguai. A afirmação de uma identidade paraguaia, mesmo que o discurso não corresponda às práticas culturais, assegura e legitima seu pertencimento ao país, o que consequentemente possibilita-lhes o direito à reivindicação do exercício da cidadania e a igualdade aos “paraguaios legítimos” no Paraguai. No entanto, a afirmação de uma identidade fechada e isolada se torna equivocada, uma vez que, os fenômenos de misturas culturais, no qual há um processo de adaptação de um povo à culturas diferentes são totalmente presentes nessa região. Nessa perspectiva, no contexto das migrações contemporâneas entende-se por hibridismo cultural o contato e as trocas culturais que acontecem entre duas ou mais culturas diferentes. O hibridismo é, portanto, um processo de assimilação do que o “outro” apresenta, ou ainda do que a terra estranha oferece. Compreende-se que a identidade emerge e se afirma no campo conflitante, carregada de concepções simbólicas e formas diferentes de classificação, onde as dinâmicas de poder redefinem essas representações. Desse modo, discutir identidade no contexto dessa imigração implica em entendê-la como fenômenos elásticos e adaptáveis permeados por relações de poder historicamente construídas pelos dois Estados Nacionais Brasil – Paraguai, e os conflitos atuais que reativam as tensões entre as duas culturas e redefinem as identidades apresentadas.


(03) A LOUCURA E A PSIQUIATRIA COMO TEMÁTICA DA PRODUÇÃO SOCIO-ANTROPÓLOGICA DE TESES E DISSERTAÇÕES (2000 – 2009).

Attiliana De Bona Casagrande
Licenciada e acadêmica do curso de Bacharelado em Ciências Sociais da UNIOESTE/Campus Toledo. Bolsista de Iniciação Científica/UNIOESTE/CNPq.
Kamila Guimarães Schneider
Acadêmica do curso de Licenciatura em Ciências Sociais da UNIOESTE/Campus Toledo. Bolsista de Iniciação Científica/CNPq (balcão).

Com este trabalho pretendemos apresentar algumas considerações a respeito dos resultados obtidos em nossos projetos de pesquisa realizados entre os anos de 2010 e 2011,[2] cujo objetivo geral foi o levantamento e a análise teórico-metodológica da produção de teses e dissertações que tivessem como temática a loucura e seus correlatos (o saber psiquiátrico, as instituições, as políticas de assistência, as experiências dos sujeitos envolvidos, etc.), originária dos Programas de Pós-Graduação (PPGs) em Sociologia/Ciências Sociais e Antropologia, reconhecidos e recomendados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Justificamos nosso interesse, uma vez que, a constituição de uma especialidade que pode ser denominada “estudos sobre a loucura e a psiquiatria”, circunscritos a grande área Ciências Humanas ainda é recente, principalmente no âmbito das Ciências Sociais, sendo mais bem visualizada no campo da História. Aliada à novidade da temática está a restrita circulação dos trabalhos, especialmente aqueles produzidos nos cursos de pós-graduação, o que torna relevante sua identificação e a construção de instrumentos que possam contribuir para uma divulgação mais ampla dos resultados obtidos.  
Por meio de revisão bibliográfica pudemos observar que a partir de 1970 no Brasil, impulsionado pela disseminação das obras e teorias do filósofo-historiador Michel Foucault, se inicia um processo de criação do campo disciplinar específico nomeado Ciências Sociais e Humanas em Saúde (CSHS). Uma discussão que abarca, por exemplo, a relação entre o processo de constituição do campo das CSHS e as chamadas “sociologia médica ou da medicina”, “antropologia médica ou da medicina”, “medicina social”, “sociologia da saúde e da doença”, “antropologia da saúde e doença” entre outras denominações. Esse campo se consolidou na década de 1990 devido a vários fatores, como por exemplo, crescimento o estímulo e assessorias internacionais, expansão do ensino superior na formação de profissionais de saúde, incremento de apoio à pesquisa, implantação e aperfeiçoamento dos cursos de pós-graduação em Saúde Coletiva. Apesar da grande diversidade temática e das distintas perspectivas epistemológicas e metodológicas que constituem este campo, destaca-se em termos de frequencia, a produção de trabalhos sobre políticas e instituições de saúde.
Para a localização da produção referida utilizamos instrumentos online de pesquisa, desse modo é possível a existência de outros trabalhos referentes à temática de interesse, porém, inacessíveis em bases virtuais. Primeiramente identificamos os Programas de Pós-Graduação das áreas de interesse indexados pelas Capes, através de seu Portal Eletrônico. Posteriormente iniciamos a localização dos sítios eletrônicos de tais programas no intento de encontrar sua produção, uma vez que, a maioria deles oferece links para esta ou da biblioteca digital na qual o programa deposita os trabalhos produzidos. Outras bases de dados digitais, como o Banco de Teses da Capes e o LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) também foram utilizados como recursos de busca. Ressalta-se que optamos pelo recorte temporal de 2000 a 2009 devido à facilidade da disposição online dessa produção, uma vez que, em 2006 a Capes publicou uma portaria (n.13) instituindo a obrigatoriedade desse tipo de publicação pelos PPGs. Dos títulos identificados, tivemos acesso aos trabalhos completos de cinco dissertações oriundas de PPGs em Antropologia, quatro dissertações e uma tese de PPGS em Sociologia e quatro dissertações e uma tese de PPGS em Ciências Sociais. Na análise feita de tais trabalhos identificamos as principais referências bibliográficas (nacionais e estrangeiras) utilizadas pelos autores – como, por exemplo, Foucault, Goffman, Elias, Bourdieu, Castel, Basaglia, Deleuze, Amarante, Duarte, Venâncio, Velho, Minayo, Canesqui, etc. –, além de construirmos classificações temáticas para agregar os trabalhos. Por fim confeccionamos um catálogo dessa produção onde constam informações diversas, tais como: título, autor, data de defesa, resumo, orientadores, localização, etc.
A apresentação de tais informações constitui o foco deste trabalho, no qual procuramos enfatizar os elementos presentes nos trabalhos analisados que contribuem para construir uma espécie de identidade da nova especialidade, bem como ressaltar as fronteiras desta produção em relação àquela que advém do campo biomédico e as dificuldades da interdisciplinaridade entre as próprias ciências sociais.  Sua finalidade principal é contribuir para a ampliação do conhecimento sobre tal temática possibilitando o desenvolvimento, promoção e renovação das pesquisas na área de interesse, bem como ressaltar a importância dos trabalhos produzidos para a ampliação de reflexões sobre os processos sociais, a cultura e a sociedade em geral.


(04) A MODERNIDADE NOS QUADRIS: CORPO, DANÇA E MÚSICA POPULAR

Allan de Paula Oliveira
Docente do Curso de Ciências Sociais da UNIOESTE/Toledo

Este artigo apresenta uma reflexão preliminar sobre o lugar da dança na forma como a modernidade percebeu a emergência da música popular. Fenômeno associado a emergência da sociedade industrial – por isso mesmo, relacionada a formas industriais de produção e recepção musical (fonografia) – a música popular durante muito tempo constituiu-se em um “objeto menor” de estudo, num quadro epistemológico que reificava classificações musicais cristalizadas desde o século XIX – como, por exemplo, aquela que opunha música erudita, folclore e música popular. A partir dos anos 70, no entanto, estudos nas áreas de sociologia, antropologia e história, reverteram este quadro, e a música popular passou a ser descrita como canal de expressão de identidade nacionais, identidade etárias, grupos urbanos, relações de gênero, relações de poder, crítica política e formas de lazer, dentre outros aspectos. Ao mesmo tempo, a música popular passou a ser analisada enquanto canal de produção de distinções sociais e fronteiras entre classes sociais (vide os trabalho de Pierre Bourdieu sobre capital cultural entre classes sociais francesas ou os artigos veiculados a partir de 1980 em revistas como a inglesa Popular Music). Este texto dialoga com estas tradições analíticas, mas sugere o acréscimo de mais uma: o corpo. Observando que grande parte dos gêneros musicais surgidos nos últimos 150 anos, e agrupados na categoria “música popular”, são gêneros de dança – jazz­, tango, samba, son, cumbia, juju music, polca, habanera, bolero – o artigo sugere até que ponto esta relação entre música e dança tem sido observada na historiografia sobre música popular, bem como em estudos de sociologia da música, antropologia da música e etnomusicologia. Ou seja, o corpo aparece como vetor central de percepção e apropriação da música popular, sendo que a dança seria o canal mediador entre corpo e dança. Isto leva a análise a um processo de desnaturalização do ato da escuta musical – historicamente visto como uma atividade mais racional do que corporal. “Escutar” para os “praticantes” (músicos e ouvintes) da música popular difere da forma como muitos teóricos – como, por exemplo, Adorno – pensaram esta atividade. Para estes, a escuta estaria ligada a um reconhecimento racional de estruturas musicais, ou ainda, a uma fruição cognitiva na qual o papel do corpo é reduzido. No caso da música popular, este texto sugere que a escuta pode passar, antes de tudo, pelo reconhecimento da possibilidade da dança, onde a música é valorizada não pela articulação de seus diferentes elementos estruturais, mas pela sua possibilidade para um uso específico, a dança. Como ilustração, o texto apresenta o exemplo do swing, estilo do jazz extremamente popular nos anos 30 e que constituiu uma verdadeira febre no mercado musical norte-americano, sendo um dos primeiros gêneros musicais cultuados por adolescentes. No swing, a despeito de suas estruturas musicais características – arranjos para orquestras, música instrumental – a dança e suas possibilidades constituíam o código central na forma como os ouvintes o percebiam. Partindo desse exemplo, o texto procura contribuir para os estudos sobre música popular e apresentar, ainda que de forma preliminar, uma articulação entre estes estudos e aqueles dedicados a outro tema emergente nas ciências sociais dos últimos 30 anos: o corpo. 


(05) ARRANJO FAMILIAR E HIGIENIZAÇÃO SOCIAL NO BRASIL:  O HOMEM, A MULHER E A CRIANÇA EM PERSPECTIVA

Conrado Pereda Minucelli
Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Estagiário de Ciências Sociais da Prefeitura Municipal de Cascavel.
Karina Martos
Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Bolsista de Iniciação Científica do CNPq.
Aline Vons Miranda
Graduanda do Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

Nosso objetivo central está em compreender e explicitar, num ponto de vista histórico e social, como se deu de maneira geral a dinâmica dos ordenamentos e reordenamentos dos papéis sociais dos membros da família brasileira, balizados pela normatização médica e científica, especialmente no recorte histórico-social da contemporaneidade, antecedido das discussões de concepções de adequação, adaptação ou adestramento à ordem social trazidas sobre o tema pelo conhecimento antropológico. Três figuras principais serão referenciais para nossas análises: o pai, a mãe e o filho, que se desdobram conseqüentemente no homem, na mulher e na criança. As concepções de papéis, do condicionamento do corpo ao convívio social e as realocações destes corpos dentro da estrutura familiar de acordo com as normas médicas serão os fenômenos centrais a serem debatidos. Tomaremos o processo civilizador e o discurso da medicalização social como os elementos principais das resignificações de papéis no seio da familiar no período pretendido, no intuito e tentativa de iniciar uma compreensão e reflexão acerca da família brasileira contemporânea. No que concerne a representação de criança, o texto tem por objetivo apresentar alguns elementos históricos, sociais e culturais da sociedade ocidental que contribuíram para a construção desta representação a partir do século XIX. O tema é abrangente e fecundo, porém, limitamo-nos a escrever sobre os espaços de sociabilidade burguesa do turbulento século XIX, acarretado pela Revolução Francesa, que disseminou as noções de indivíduo, liberdade e igualdade, gerando uma nova interpretação dos papéis sociais, na esfera pública e privada, especialmente no sistema familiar, criando outra imagem, papel e função da criança. Acerca da representação feminina, mostraremos que a construção da imagem da mulher no discurso médico, como relacionada à maternidade, ou seja, a partir de seu papel na reprodução da espécie, é um produto do discurso deste mesmo século XIX, no qual a mulher é associada a comportamentos dóceis, passivos e assexuados. Ainda, ao longo da história, as identificações de características biológicas, calcadas em pressupostos científicos, justificaram e ainda justificam as diferenças entre os sexos. Levando em consideração que tal diferenciação ocupa um lugar significativo no arranjo social, a medicina tratou de levantar evidências da inferioridade feminina, como uma forma de legitimar as visões de mundo e as hierarquias sociais que apontam à opressão masculina sobre a mulher, fenômenos este que também será alvo de nossas análises neste artigo. Permeando todo este escopo de análise da realidade social contemporânea, também abordaremos a noção de imagem do corpo, que compõe um conjunto de noções culturalmente definidas a partir das quais o indivíduo percebe e interpreta seu corpo. A relação entre indivíduo, corpo e sociedade é, portanto, composta por diversos elementos peculiares que tangem essa relação e que este artigo não conseguirá abranger em toda sua totalidade, mas tentará dar conta minimamente da relação do corpo com a medicina e sua percepção mais cotidiana no campo social. Enfim, em uma perspectiva epistêmica, muito além da análise das relações de um ponto de vista individual ou restrito à uma casa apenas, nos propomos aqui a utilizar estes conhecimentos antropológicos contemporâneos para estabelecer uma mínima dinâmica nas relações familiares brasileira, de um ponto de vista social.


(06) CAMINHOS E DESCAMINHOS DA INTERSUBJETIVIDADE NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE

Devair Gonçalves Sanchez
Graduando do Curso de Filosofia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE

No seio da pós-modernidade o conceito de diferença entre os sujeitos margeia as discussões nos mais diversos âmbitos das ciências humanas e sociais. O problema da experiência do outro se coloca por assim dizer numa esfera abrangente de discussão se estendendo à atividade do profissional inserido no contexto das ciências sociais. Dar-se conta da importância fundamental do outro indivíduo no processo do desenvolvimento social é um aspecto fulcral e emergente, levando-se em conta os inúmeros problemas de fragmentação e desigualdade social causados pelo des-comprometimento ou negligência em relação a essa discussão. No intuito de salientar a importância do debate acerca da intersubjetividade no limiar do século XXI, o presente trabalho visa trazer a proposta do pensador francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), embasada no método fenomenológico de construção da identidade do outro. Tal perspectiva vislumbra a possibilidade de aplicação do método fenomenológico de abordagem nas realidades de conflito sociais entre os sujeitos e, por conseguinte, nas relações intersubjetivas, que de acordo com o filósofo, são a gênese para o desenvolvimento psico-social de qualquer comunidade. A proposta que será apresentada com base em Merleau-Ponty, parte de uma análise da estrutura conjuntural da totalidade de uma determinada sociedade, pois o prisma teórico do autor é orientado pela visão de que é necessário considerar o organismo como um todo para se descobrir o que se seguirá a um dado conjunto de estímulos. O processo de convivência com o outro diferente de mim gera conflitos em detrimento da subjetividade do humano. Tendo em vista a degeneração da pessoa no processo de construção de sua identidade cabe ao profissional ligado ao âmbito das ciências humanas e sociais, estar apto a empreender mediações de conflitos e lidar com as diferenças que causam a marginalização dos indivíduos no âmbito social. A proposta de Merleau-Ponty será pautada por uma tentativa de, através de uma abordagem fenomenológica transcendental da corporeidade do outro, atingir a condição existencial, a subjetividade e a história individual do que se mostra como sujeito humano. Sabendo que o outro se torna uma incógnita nas relações de alteridade, essa proposta de abordagem do ser do outro visa alcançar uma transparência dos aspectos relacionados à personalidade do individuo enquanto vivência num mundo próprio, pessoal, mas que ao mesmo tempo diz respeito a um determinado contexto social. Por se encontrar lançado num mundo de possibilidades, o ente humano vai diante das escolhas optadas no decorrer da existência, moldando traços de personalidade que delinearão o perfil do sujeito que estará convivendo com outros que passarão pelo mesmo processo. Entender a dinâmica dessa condição existencial inerente a todo ente humano é o que perfaz a proposta fenomenológica existencial de Merleau-Ponty. Segundo o pensador, somente entendendo a manifestação da subjetividade através de uma percepção fenomenologicamente fundamentada é que poderemos traçar parâmetros de ação profissional em prol do convívio social. Entender a natureza humana em sua gênese comportamental é tarefa de qualquer profissional deveras comprometido com a causa social e com o desenvolvimento da condição humana.




(07) CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE A PROSTITUIÇÃO EM NOVA SANTA ROSA

Karine Fernanda Reschke
Graduanda do Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná  UNIOESTE/Campus de Toledo

O trabalho, em sua primeira etapa, tem o objetivo de apresentar um apanhado geral sobre a idéia de memória abordada por diferentes autores da antropologia e da psicologia social. A intenção é trabalhar a memória enquanto patrimônio da sociedade e da sua população, principalmente como meio oral de comunicação. A abordagem tenta mostrar a importância da memória para a construção da história da sociedade, atuando como uma alternativa desta construção, devido à maioria dos registros históricos serem feitos através de documentos escritos. A memória atua como construtora da identidade coletiva de um grupo a partir das memórias individuais, dos seus participantes que somados formam a sua trajetória enquanto seres sociais que se interagem entre si e constroem suas relações sociais. São essas relações entre homem, natureza e sociedade que formam a sua identidade enquanto indivíduo. A memória e a identidade são processos de construção dinâmicos e mutáveis, dependentes da influência externa sofrida pelo indivíduo, na sua interação com a sociedade e com a natureza. Além de, a memória ser uma ferramenta de construção da identidade, ela também é considerada, pelos autores citados no trabalho, uma forma de construção da história, tanto do indivíduo como da sociedade. Portanto ela atua como mecanismo de integração do homem em seu grupo social e assim desse grupo na sociedade. O grupo é o responsável pela sustentação das memórias, pois é ele que as mantêm presentes, ao passo que seus integrantes interagem e se relacionam, assim a memória individual caracteriza-se como um ponto de vista da memória do grupo. A história de vida é uma importante forma de obtenção dessas lembranças, sejam elas puramente individuais ou coletivas. Apesar de coletar informações sobre o individuo durante a pesquisa de sua história, essas memórias estão sempre impregnadas das construções coletivas que o próprio indivíduo carrega por conta da sua relação social com o grupo. Após a construção bibliográfica sobre a memória, foram realizadas entrevistas, como uma segunda etapa do trabalho, visando à obtenção de informações para a construção da história de vida da proprietária de um tradicional bar, onde há a atividade de prostituição na cidade de Nova Santa Rosa no Paraná. Através das entrevistas realizadas com a Dona Flor de Liz, pseudônimo utilizado para preservar sua identidade, tornou-se possível a construção da história de vida dela enquanto proprietária de um “bar de mulheres”, trazendo assim informações de como foi a criação dos filhos, a sua trajetória na cidade, que também estava em crescimento por ser recentemente emancipada. A história da cidade de Nova Santa Rosa também ocupa um lugar neste trabalho ao passo que um pequeno histórico de sua colonização é apresentado no mesmo, com a intenção de mostrar quais as representações que a prostituição tem para esta população de formação tradicionalmente patriarcal e germânica. As entrevistas trouxeram muitas informações surpreendentes sobre tais representações, primeiramente apresentadas pela proprietária do bar, e posteriormente por mais três mulheres que direta ou indiretamente tiveram contato com essa atividade. Realizando a análise de tais discursos, percebe-se que este assunto tem uma conotação de segredo na cidade, há informações que ficam subentendidas nos depoimentos, mas que não são declaradas explicitamente. A questão que paira em torno dessa segunda parte do trabalho é a idéia de público e privado, ou seja, quando se fala e quando não se fala sobre a prostituição. O trabalho está em fase de construção, tendo como terceira etapa uma fundamentação teórica dessa idéia de segredo dentro do contexto estudado.


(08) GLOBALIZAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES NO DESENVOLVIMENTO DE RELACIONAMENTOS SÓCIO-COMUNITÁRIOS NA FRONTEIRA - UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO CONDOMÍNIO MEGA VILA, FOZ DO IGUAÇU/PR

Cleiton Evandro Friedrich
Graduando do Curso de História e bolsista do Programa de Iniciação Científica da Faculdade União das Américas PRUIC – UNIAMÉRICA

No presente artigo[3] apresenta-se parte dos resultados do projeto de pesquisa intitulado “Construção da identidade cultural na região de fronteira de Foz do Iguaçu/PR: Um estudo exploratório sobre os relacionamentos de vizinhança desenvolvidos nos condomínios na cidade de Foz do Iguaçu/PR.”, desenvolvido através do Programa de Iniciação Científica da Universidade União das Américas – PRUIC Uniamérica, tendo como problemática a questão das peculiaridades que formam a região de fronteira, globalização e a influência destas na maneira como os moradores desenvolvem seus relacionamentos de vizinhança.
Alguns teóricos vêm discutindo as implicações que o processo de globalização traz sobre a estrutura das relações sociais na pós modernidade. Dentre estes, Ianni (2003) declara que a globalização pode ser vista como um processo histórico-social de vastas proporções, abalando os quadros sociais e mentais de referências de indivíduos e coletividades, inaugurando outras estruturas e formas de socialização e comprimindo espaço-tempo. A fragilidade dos vínculos e laços de relacionamento estabelecidos gera um sentimento de insegurança (BAUMANN, 2004).
Os processos de globalização atingem de forma peculiar a região de fronteira da cidade de Foz do Iguaçu, devido a complexidade desta região.
A cidade de Foz do Iguaçu/PR localiza-se no extremo oeste do Paraná e faz fronteira com dois países: Argentina e Paraguai, formando uma tríplice fronteira. Tem sua economia baseada no turismo ao complexo turístico das Cataratas do Iguaçu, à Usina Itaipu Binacional e ao turismo comercial. Com o acirramento da fiscalização da Receita Federal houve uma considerável diminuição do fluxo dos turistas e um aumento do contrabando de mercadorias.
Devido à vulnerabilidade e à falta de policiamento suficiente, as ações voltadas principalmente ao tráfico de entorpecentes, armas e munições ocorrem em grande número e facilitam a ação de quadrilhas de criminosos, assim a cidade também é conhecida como rota do tráfico.
Outro fator relevante é que segundo informações da Prefeitura desta cidade, contabilizam-se moradores de cerca de 72 nacionalidades na cidade de Foz do Iguaçu. Deste modo, esta região é rica pela diversidade cultural.
Para realização da pesquisa utilizou-se como metodologia a pesquisa exploratória descritiva com caráter quanti/qualitativo, realizou-se levantamento bibliográfico[4] e pesquisa de campo, com realização de entrevistas semi estruturadas com a utilização de um formulário[5].
Foram realizadas 50 cinqüenta entrevistas com moradores maiores de 18 anos de ambos os sexos, no período de janeiro a maio de 2011, no condomínio Mega Villa, no Jardim Lindóia na cidade de Foz do Iguaçu.
O universo da pesquisa é composto por 72% de mulheres e 28% de homens, 48% dos entrevistados são adultos entre 31 e 50 anos e 32% tem acima de 51 anos de idade. Observa-se que 52% dos entrevistados residem há mais de 07 anos, no condomínio. Quanto à quantidade de filhos 56% dos casais possuem apenas um filho e 38% possuem dois filhos, observa-se que 56% dos filhos possuem de 0-12 anos, ou seja, são crianças e 26% são adolescentes.
Entre os entrevistados há um número bastante acentuado de mulheres, donas de casa, com filhos ainda crianças e adolescentes, que residem no condomínio há mais de 07 anos, possuindo um tempo considerável de convivência com outros moradores, característica essa que poderia auxiliar no desenvolvimento de relacionamentos de vizinhança mais próximos, contudo, estes ainda são permeados pela superficialidade decorrente da forma como a sociedade pós moderna vem se organizando, como é verificado através das outras perguntas realizadas.
Em uma das perguntas procurou-se descobrir se o entrevistado conhece o seu vizinho, destes 51% disseram sim, 14% responderam que não e 35% afirmaram que conhecem mais ou menos. Observa-se que 48% dos entrevistados eram casais que trabalhavam e que o seu cotidiano era o de “ir do trabalho pra casa e de casa pro trabalho”. Verifica nas afirmações “conheço só de vista”, ou nas justificativas de que o trabalho lhes toma muito tempo, dificultando o relacionamento mais próximo com seus vizinhos, que as relações desenvolvidas são superficiais. Observa-se que o sujeito internaliza os significados e valores da sociedade em que vive, sociedade esta globalizada (HALL, 2000).
Dos entrevistados 40% realizam algum tipo de atividades com seus vizinhos, no entanto 50% afirmam que não fazem nenhum tipo de atividades juntos. Destinou-se uma questão exclusivamente para perguntar sobre o partilhar refeições, visto que está é uma atividade que presume algum tipo de intimidade. Assim, os entrevistados foram questionados se tinham o hábito de fazer ou se já fizeram alguma refeição com seu vizinho, 32% responderam que sim, no entanto,  50% disseram que nunca realizaram nenhuma refeição com o seu vizinho
Os comportamentos aqui descritos, caracterizam as formas de sociabilidade na sociedade pós moderna em especial na cidade de Foz do Iguaçu, onde as variáveis que caracterizam comportamentos individualizados e reservados parecem estar mais evidenciadas, pois na condição de região de fronteira os moradores convivem com diferentes sujeitos sociais.
Assim, ao analisar-se os dados com um pouco mais de cuidado observou-se que as conversas que os moradores possuem são resultados de encontros eventuais e são fundadas na política da boa vizinhança e nas relações de cordialidade, isto também é visível ao verificar-se que as atividades desenvolvidas normalmente ocorrem devido a afinidades, como a prática de esportes ou ao fato de possuírem as mesmas crenças religiosas, ressaltando-se que poucos partilham momentos em que realizam refeições com seus vizinhos, o que revela falta de intimidade e pouca proximidade dos relacionamentos.
Assim, verifica-se que os relacionamentos de vizinhança, no condomínio pesquisado, estão permeados pelas noções e concepções da sociedade pós moderna em que as pessoas trabalham muito, passando muito tempo fora de casa e em contraponto possuem pouco tempo para relacionar-se com quem esta mais próximo, tendo atitudes pautadas pelo individualismo, egoísmo e pela insegurança, sendo que nesse meio perde-se conforme afirma Bauman (2004) o compartilhamento familiar, a ajuda entre vizinhos e a cooperação entre amigos.


(09) HISTÓRIA E MEMÓRIA: A IDENTIFICAÇÃO DE “SI” E DO “OUTRO” NA FORMAÇÃO DO DISTRITO DE BRAGANTINA, ASSIS CHATEAUBRIAND-PARANÁ

Marilda Marques
Mestranda do Programa e Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon

O presente artigo tem como objetivo problematizar e discutir o projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-Graduação em História da Unioeste, Campus de Marechal Candido Rondon. Primeiramente o projeto de pesquisa tinha o objetivo de compreender “a constituição da identidade sociocultural da população do distrito de Bragantina no encontro migratório entre “sulistas” e “nortistas,” a partir da década de 60” no contexto de formação/ocupação do local”. A questão central do projeto era analisar sobre qual a identidade da população do distrito de Bragantina, e, por qual grupo havia sido construída, pelo ”sulista” ou pelo “nortista”, no conflito ou no consenso.
 A indagação em torno de minha própria identidade, de ser “sulista” (por ser filha de descendentes de gaúchos), ou “nortista”, (por conviver com pessoas de origens diversas principalmente das regiões do Nordeste, Sudeste e Norte do Paraná) me levou a pensar sobre o conceito de “identidade” e como ela se constrói. As falas correntes sobre a população do distrito de Bragantina, (onde vivi toda minha adolescência), de forma depreciativa e preconceituosa foram decisivas e materializaram-se no projeto de pesquisa.
 Diante disso, vários questionamentos passaram a permear o projeto de pesquisa com o intuito de compreender a identidade da população do distrito de Bragantina, como exemplo: o que se produziu em termos de identidade a partir da formação do núcleo populacional que originou o distrito de Bragantina? Se a identidade é uma construção social, um elo com a história passada e com as memórias do grupo, enraizada no gesto, na imagem, na linguagem, no objeto, no ícone, na religiosidade, como ela se mostra na memória dos sujeitos? Quais as lembranças tanto dos “nortistas” quanto dos “sulistas” em torno da constituição da identidade? O que a narrativa dos que participaram deste processo de constituição da identidade nos revela?
Digo “era uma vez um projeto de pesquisa”. Porque não é mais, e as mudanças são decorrentes das leituras, reflexões e debates no decorrer do primeiro semestre. Os novos contornos que o projeto foi recebendo foram sendo delineados também mediante leituras no campo da História, Antropologia e Literatura, bem como, a partir de algumas entrevistas realizadas, a partir das quais foi possível a desconstrução de um olhar estático e cristalizado sobre o local e as práticas produzidas por esses sujeitos do distrito de Bragantina.
Tal desconstrução significou perceber que a realidade social é dinâmica e se refaz cotidianamente dentro de um campo de batalha que envolve a memória, as identidades as culturas. Também exigiu o esforço de olhar para a História não como um dado pronto e acabado, mas edificada pelos “homens no tempo” e repleta de “sentidos”. A dinamicidade da História decorre das mudanças sociais, culturais, econômicos e políticas, etc., e dentro desse contexto os sujeitos são os principais atores de mudanças.
 O intuito agora é analisar através das narrativas dos moradores do distrito de Bragantina, Assis Chateaubriand – Paraná, como os mesmos se identificam e identificam o "outro" a partir da diversidade cultural e identitária na formação do local a partir da década de 1960.
Não é mais possível olhar para o distrito de Bragantina e defini-lo a priori enquanto uma fronteira “imaginária” onde correntes migratórias “sulistas” e “nortistas” se encontraram. As reflexões não podem se pautar apenas sobre essas diferenças e a partir dessas denominações, mas sobre o que se construiu a partir da diferença tendo em vista que as práticas culturais e “as identidades” são edificadas, desconstruídas e reconfiguradas historicamente. É preciso considerar como os moradores se identificam e identificam o “outro”, os “modos de vida” gestados neste espaço mesmo diante das diferenças, e a partir delas.
As narrativas até o momento coletadas nos revelam uma multiplicidade de elementos, como: as memórias sobre a luta pela terra, a presença dos jagunços a mando da colonizadora, a luta pela sobrevivência em pleno “sertão”, o medo e incertezas diante das dificuldades encontradas, os conflitos gerados no local devido à diversidade sociocultural entre grupos migratórios, as identificações, os laços de amizades que se materializaram dentre outros que surgirão no decorrer da pesquisa.
Essa é nossa pretensão, construir a partir das narrativas uma “verdade parcial” sobre a história do grupo pesquisado tendo como elemento condutor a memória.


(10) PENSANDO O ROCK COMO UMA ALTERNATIVA DE IDENTIDADE

Franciele Cristina Neves
Licenciada em Ciências Sociais e graduanda em Bacharelado no Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)

A presente comunicação consiste em um ensaio a partir de uma disciplina do Mestrado em Ciências Sociais da Unioeste, na qual participei como aluna especial.  O objetivo do trabalho é fazer uma discussão a cerca do conceito de identidade, e a partir disto, ver o rock como uma das alternativas possíveis.
Considero o rock como um grupo de indivíduos que compõem uma sociedade de aficionados do “gênero musical” do rock and roll, autodenominados rockeiros. Trato o rock como um “gênero musical”, uma “tribo urbana”, uma forma de “lazer”, uma “ação coletiva” e como um movimento que emergiu na década de 60, na chamada “novos movimentos musicais”.
Dentre muitas possibilidades de identidade que esta sociedade moderna nos oferece, o rock se torna uma das várias alternativas existentes. As identidades são criadas dentro de uma cultura e carrega consigo símbolos e representações, munidas de significados, que só serão entendidos pelos componentes internos de seu grupo. Para Woodward (2000):

A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito. É por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentido
à nossa experiência e àquilo que somos. Podemos inclusive sugerir que esses sistemas simbólicos tornam possível aquilo que somos e aquilo no qual podemos nos tornar. A representação, compreendida como um processo cultural, estabelece identidades individuais e coletivas e os sistemas simbólicos nos quais ela se baseia fornecem possíveis respostas às questões: Quem eu sou? O que eu poderia ser? Quem eu quero ser? Os discursos e os sistemas de representação constroem os lugares a partir dos quais os indivíduos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar. (WOODWARD, 2000, p. 17-18).

As representações em uma cultura são a chave para a produção de significados, e estes permeiam as relações sociais, levando então, a necessidade de identificação do individuo como componente de um grupo. Estas práticas que produzem significado envolvem relações de poder, caracterizando assim, quem é incluído e excluído ao grupo. Ao dar sentido à experiência, a cultura nos permite optar entre variadas identidades disponíveis, fazendo isto através da subjetividade. Além da variada possibilidade de identidade que a cultura nos oferece, sofremos influencia também das relações sociais que nos permeiam. Portanto, ao escolher uma identidade, naturalizamos os sistemas simbólicos e damos sentido à experiência do grupo.
Investimos na identidade porque adquirimos um discurso e nos posicionamos perante ele. Estas posições que assumimos definem nossas identidades. Portanto, o rock é uma identidade, que têm seus significados e símbolos. Encontramos neste grupo características específicas, que nos permitem fazer a classificação entre “nós e eles”. Esta marcação é essencial em uma construção de oposições de identidade, nos possibilitando assim, identificar quem é incluído ao grupo e quem está fora dele. Esta marcação da diferença é essencial na cultura porque atribuímos sentido as diferentes posições, levando em consideração este sistema classificatório. Estes processos de identificação quebram com “verdades” estabelecidas, e ajudam a questionar uma série de conceitos tradicionais. Perante isto, vê-se crises de identidade, e o surgimento de novas formas de identificação.
Apesar das exaustivas discussões sobre as identidades a níveis nacionais e locais, a discussão acerca da identidade é central perante as preocupações com a vida contemporânea. Este assunto é de suma importância, já que todos representam cotidianamente diversos papéis sociais. Sendo assim, é possível se pensar o conceito de identidade, relacionado com um estilo de vida, no caso a escolha do rock.


(11) PERMANÊNCIA DE PRÁTICAS RELIGIOSAS CAMPONESAS NO OESTE PARANAENSE

Gabriela Cristina Maceda Rubert
Graduanda do Curso de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon

Esse trabalho tem por intenção analisar a permanência da devoção aos monges do Contestado mais especificadamente ao monge João Maria de Jesus no oeste paranaense a partir das migrações. As migrações expandem as práticas religiosas para outras regiões, o que gera um intercâmbio muito grande no âmbito religioso. Isso gerou uma religião popular repleta de simbologias oriundas de várias práticas religiosas. Além disso, pretendo analisar como os processos históricos e as relações sociais influenciaram a continuação da devoção aos monges, compreendendo suas resignificações como adaptação as novas problemáticas da sociedade.
As profecias dos conhecidos três monges, influenciaram os camponeses esquecidos pela sociedade a lutar por uma vida melhor e pela posse de terra. As histórias em torno da origem e da vida desses profetas criou mitos e milagres que deram credibilidade ao poder sagrado de suas práticas e profecias. Duglas Teixeira Monteiro relata alguns feitios e o significado desses personagens na comunidade, substituindo muitas vezes as instituições ausentes no espaço rural e de difícil acesso. Além disso a proximidade com a vida simples dos camponeses gerou admiração e reconhecimento, o que nos ajuda a entender a formação da religiosidade popular e sua importância para seus praticantes. A herança da devoção aos Monges reflete o sentimento de identidade camponesa presente nos migrantes, mesmo no espaço urbano.
Outra reflexão proposta é o significado da religião popular hoje. Assim como coloca José de Souza Martins, os processos de migração no Brasil são constantes o que gera sentimentos em comum entre os migrantes, e muitas vezes anseios e sonhos refletidos nas práticas religiosas. A esperança da terra prometida, presente nas profecias dos monges, e em muitos movimentos sociais de luta, permanece na mentalidade dos camponeses migrantes.
As práticas religiosas populares não podem ser estudadas de forma homogênea, é preciso analisar casos particulares, para poder identificar as múltiplas influências e culturas implícitas nos atos de fé. Neste caso irei analisar o culto de um devoto específico ao monge João Maria de Jesus, problematizando suas relações com a Igreja oficial e com a religião popular.
Muitas vezes a permanência de determinadas crenças milenares e tradicionais, reflete a resistência da população á padronizações não aceitas. A imagem dos monges, a religião do Contestado e seu histórico são permeados de sentimentos de luta e reivindicação pela terra, o que nos faz refletir as resignificações de suas práticas no território do oeste paranaense, mais precisamente na cidade de Catanduvas, espaço permeado por muitos conflitos de terra. A religião dialoga com a sociedade e exprime as lutas sociais e políticas da população, portanto a religião do Contestado remete ás lutas pela posse de terra, e representa para seus devotos a esperança de um mundo melhor e justo. Os rituais de devoção aos Monges também refletem a resistência diante dos novos valores sociais gerados pela modernidade, através de uma memória saudosa que relembra os tempos antigos com nostalgia.
Sendo assim pretendo analisar o universo dos devotos a partir de suas práticas cotidianas religiosas, refletindo a hibridização religiosa presente no território devido ao intenso fluxo de migração.


(12) RELAÇÃO ENTRE A ORDEM MÉDICA E COMPORTAMENTO MASCULINO E FEMININO NO BRASIL, NUMA PERSPECTIVA HISTÓRICA

Jorge Henrique Dias Fuentes
Graduando do Curso de Ciências Sociais da Universidades Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Campus de Toledo

O presente artigo apresenta de forma geral uma análise do processo de incursão médica na regulação do comportamento e na construção de identidades masculinas e femininas, no casamento e fora dele, em alguns momentos históricos do Brasil. Os comportamentos e hábitos de homens e mulheres se transformam com o tempo devido a variados fatores como cultural, social, econômico e político. Muitas vezes as alterações aos hábitos e comportamentos de gêneros servem a interesses ora do Estado, ora por interesses econômicos de consumo. E para que essa transformação que não é natural pareça natural, são utilizadas várias ferramentas. Sendo assim, neste trabalho, analisaremos brevemente uma das ferramentas utilizadas para se transformar intencionalmente os comportamentos de gêneros na sociedade que é a ordem médica, e de forma geral apresentar sua incursão intencional, ora servindo o Estado ora não, na vida particular de homens e mulheres moldando e regulando seus comportamentos e suas identidades ao longo da história do Brasil. Nesse sentido, deixaremos claro que a premissa que orientará esse trabalho é de que “como já foi analisado, particularmente por Foucault (1997), a medicina têm se constituído numa importante instância de regulação dos corpos” (VILLELA, 1999 p.200) O desenvolvimento da medicina ao longo da história tem sido um reflexo do desenvolvimento do capitalismo. Assim, seus serviços, como também as pesquisas científicas na área da saúde, cada vez tem a preocupação primordial a obtenção de lucro pelas grandes corporações das indústrias farmacêuticas.
Dessa forma, o uso da ciência, como também da tecnologia, vem para suprir esse objetivo mercadológico e não a saúde de sujeitos.  Além disso, é apresentado como o discurso e práticas médicas modeladores de comportamentos servem a interesses do Estado, interesses estes que ora foram político-econômicos, ora higiênicos. Assim se deu no século XIX com a intervenção do Estado através da ordem médica, para solucionar a epidemia da sífilis, onde este procurou alterar os comportamentos e hábitos tanto na forma de construção e formação da instituição casamento como também no comportamento dos indivíduos dentro dessa instituição e fora dela.  Além da resolução de proliferação da sífilis e dos interesses higiênicos, todas essas alterações e mudanças impostas à sociedade na forma de composição do casamento e no comportamento masculino e feminino tinha o objetivo da “defesa da raça do Estado, através da proteção das crianças”, e também buscava alcançar objetivos políticos e econômicos, ou o que Jurandir Costa Freire chama de um aburguesamento da sociedade. Para tal, o Estado não respeita intimidade, cultura, identidade ou condição social da massa da população pobre, que é a que mais sofre com tal incursão médica. Como exemplo disso, podemos citar a Revolta da Vacina, onde através de uma ação médica se pretendia higienizar e limpar étnica e social, a cidade do Rio de Janeiro no inicio do século XX, e nesse processo se utilizou da violência, e despejo de muitas famílias, tudo em busca de um desenvolvimento nacional influenciado por países Europeus. Ao fim a intenção foi de desnaturalisar comportamentos de homem e de mulher construídos ao longo da história do Brasil, pelo discurso médico, e que nos são apresentados como naturais.


(13) PRECONCEITO RACIAL: A CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE DE EXCLUSÃO EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON.

Mônica Coutinho Antes
Graduanda do Curso de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon

O presente trabalho se refere a uma parte do TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), sendo que este ainda está em andamento. Marechal Cândido Rondon foi colonizado pela empresa MARIPÁ, no final da década de 1940, sendo que os colonizadores, em sua maioria, eram oriundos dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, descendentes de alemães e italianos. Hoje, Marechal Cândido Rondon, é conhecido como “o mais germânico da região oeste do Paraná”. Discurso esse construído pelo poder público do município e empresários que, visando, entre outros aspectos, o turismo e consequentemente o lucro para o município, que foram alcançados através da caracterização estrutural em estilo germânico da cidade, as fachadas das casas, lojas e também pela ”tradicional” festa alemã, a Oktoberfest, que ocorre todo anos, desde 1987, no mês de outubro, no município. Diante disso, o presente trabalho, visa analisar a relação estabelecida entre o município de Marechal Cândido Rondon com os “outros”, ou seja, aqueles que não pertencem ao grupo descendente de alemães, ou não se identificam com esta característica da cidade, tratando-se mais especificamente dos negros. A escolha pelo sujeito da pesquisa, o negro, se deu a partir de um incômodo pessoal, por eu ser negra e através das relações sociais vivenciadas em Marechal, pude notar o quão está impregnada essa pretensa memória única germânica na sociedade e também a existência de certa resistência nas relações sociais com os “outros”, não germânicos.  Com isso, a partir da análise da construção da identidade germânica é que se pretende observar a existência do preconceito racial na relação social da cidade como os “excluídos” e logo, como estes se sentem, se reconhecem, se identificam nesta relação. Leva-se em consideração que o processo de exclusão não parte apenas da questão racial, mas também socioeconômico e outros fatores de relevância, pois mesmo no processo colonizatório desta região, em que observou-se a existência da escolha pelo “elemento” colonizador, que de certa forma referia-se aos descendentes de germânicos, não foram todos que receberam o “direito” de serem chamados de colonizadores, apenas alguns, no entanto, optou-se nessa pesquisa priorizar os negros, por justificativas já colocadas.
Sendo assim, como parte dos objetivos do trabalho, a questão da memória será analisada no decorrer da construção da identidade germânica, desde a colonização do município, a partir de bibliografias existentes. Haja vista também que, houve uma recorrência, por parte do poder público, a historiografia oficial da cidade, com a pretensão de forjar uma memória única e oficial e também com o intuito de legitimar tal memória coletiva. Para isso, estabeleceu-se a delimitação temporal para a análise, sendo esta referente às décadas de 80 e 90 do século XX. Tal delimitação temporal foi estabelecida tendo em vista que o município é consideravelmente novo, tenho apenas 51 anos de história, porém a pouca “idade” do município não o exime de conflitos sociais como é colocado na história oficial de Marechal.


(14) TELEVISÃO X HOMOFOBIA: INCLUSÃO OU DISCRIMINAÇÃO?

Douglas Josiel Voks
Graduando do Curso de História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Campus de Carechal Cândido Rondon
Daiane Rizieli Voks
Pós-graduanda pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC

Esse trabalho tem por intenção analisar as representações homoafetivas nos meios televisivos e a sua receptividade pelos telespectadores, pois acompanhamos nas últimas décadas um grande avanço dos meios midiáticos, os quais hoje podem chegar a lugares inóspitos, transmitindo informações em uma rapidez jamais vista. Essas tecnologias influenciam a nossa vida de uma forma muito direta, mudando a nossa forma de nos comunicar, agir e pensar, principalmente no que diz respeito ao relacionamento com outros indivíduos.
Desta maneira, esse trabalho busca entender como essa nova forma de ver o mundo através de um aparelho eletrônico tem nos influenciado, e também que mundo que nos é mostrado, pois o que chega até nós passa pela ótica dos meios midiáticos, ou seja, não é uma visão neutra, mas sim carregada de intencionalidades e juízes de valores. Segundo Theodor Adorno (2002) criador do conceito de indústria cultural, os meios midiáticos têm como uma primeira funcionalidade criar mecanismos de dominação e alienação, de forma simples e sutil, a ponto de uma mensagem subliminar em um filme poder mudar os hábitos e comportamentos de uma pessoa, assim como uma simples novela pode acabar reforçando preconceitos e estereótipos na sociedade brasileira.
Esses meios de comunicação se dizem democráticos, pois abrangem um vasto público de diferentes opiniões, credos, etnias e classe social, porém quando se trata de um público homossexual eles não são democráticos nem inclusivos, pois a vida gay como ela é não é representada, pois muito que se vê é rodeado de preconceitos e com muita falta de informação.
Partindo dos conceitos de Adorno em torno da indústria cultural, podemos ter a certeza da forte influência dos meios midiáticos sobre os indivíduos, e ao mesmo tempo se constituindo em fortes potencializadores de preconceitos. Nesse sentido buscou-se compreender assim como Jesus Martín-Barbero aponta, em “descobrir o sentido que os meios, bem como as suas formas e aquilo de que falam, têm para as pessoas que os recebem, as quais ao mesmo tempo orientam a sua produção”.
Uma das hipóteses levantadas nesse trabalho é de que esses meios midiáticos, mais especificamente a televisão aberta tem em grande medida a culpa por vários estereótipos criados em torno do mundo GLS, pois o humor escrachado, a homossexualidade como algo passageiro ou algo promíscuo se faz presente em quase todos os programas humorísticos ou novelas. Desta forma criam no imaginário social, novos preconceitos e reforça os já existentes.
O que se percebe é que emissoras têm uma grande dificuldade em abordar o universo gay, pois é muito mais fácil partir de uma forma preexistente fundada na comicidade e aceita pelo grande público, do que abordar temas mais sérios. Com isso acabam reproduzindo preconceitos e perdem a chance de utilizar da sua influência social para acabar com as barreiras entre o conhecimento heterossexual para com o homossexual, podendo apresentar um universo de pessoas que não são iguais, mas que a diferença faz parte.


(15) UM RETRATO À VÊNUS: REPRESENTAÇÕES COLETIVAS SOBRE ESTÉTICA E BELEZA CORPORAL FEMININA NA CIDADE DE TOLEDO

Talita Boaretto Pereira
Graduanda do Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Campus de Toledo

Este trabalho pretende uma pequena pesquisa etnográfica em antropologia e também pesquisas bibliográficas, cujo objetivo é compreender como alguns estudos histórico-sociais vêm abordando a questão da mulher e seu corpo e de como diversos fatores entre eles as transformações da modernidade, a cultura brasileira e a mídia tem, através da historia, contribuído para uma nova construção social de corpo, beleza e juventude.
Atualmente, as questões como beleza corporal e estética são recorrentes nos meios de comunicação e nos diversos espaços públicos e privados. A ideia de beleza ou o ideal ao qual ela representa está de certa forma, com maior ou menor intensidade, presente na vida de todas as pessoas
As cirurgias plásticas assim como outras inúmeras técnicas de manutenção e transformação corporal têm ganhado, cada vez mais, um caráter naturalizado atrelado ao nosso cotidiano e este por sua vez esta ligado a um ideal moderno de corpo e beleza.
Segundo Berger (2008), estamos vivendo um fenômeno de “culto ao corpo”. Esse fenômeno ganhou força nos Estados Unidos a partir do ano de 1980 e no Brasil a partir de 1990, nesse processo o corpo foi configurando-se em uma nova cultura repleta de simbolismos e técnicas.
Por esse motivo há uma grande importância em compreender o papel da cultura nas determinações dos padrões de beleza, compreendendo como hoje as pessoas utilizam-se de seus corpos para atingirem a esse fim.
O corpo, sobretudo o corpo feminino, tem sido nos últimos anos, alvo de inúmeras intervenções e técnicas que buscam o alcance e/ou a manutenção de um ideal estético muito bem estabelecido. Companheiro histórico do homem, ele acompanha as inúmeras transformações culturais e é nele que evidenciamos com mais e maior clareza os percursos dessas transformações.
A modernidade trás consigo inúmeras alterações sociais de cotidiano e de comportamento e, como em outros momentos, essas mudanças acabaram por serem refletidas no corpo, e nas normas consideradas “ideais” como suas maneiras de vestir, de portar, de pintar-se e até mesmo a forma que o próprio corpo deve ter. É justamente em função dessa grande visibilidade sobre os investimentos no corpo que a abordagem de pesquisas no campo da história e da antropologia, sobre esse tema se mostra relevante e imprescindível.
O projeto tem por objetivo pesquisar através de métodos antropológicos quais são as representações coletivas sobre estética corporal e beleza feminina na cidade de Toledo. Procurando compreender quais os determinantes sócio-culturais, os símbolos e os ideais que envolvem as representações sobre corpo e beleza para as mulheres do universo de pesquisa.
No entanto não se pretende aqui falar exclusivamente das técnicas de intervenção cirúrgica que buscam modificar o corpo a fim de torná-lo mais belo. Existem aspectos mais profundos que referem-se a beleza como conceito, que por sua vez pressupõe uma visão de mundo fundada muito provavelmente em um modo de vida que envolve em torno de si inúmeros aspectos que podem ser encontrados tanto no âmbito social, como biológico e psicológico.


(16) GERAÇÕES E MODERNIDADE: O PAPEL DA JUVENTUDE NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA NUMA LEITURA COMPARADA ENTRE MANNHEIM E EISENSTADT
Carlos Eduardo Bao
Licenciado e acadêmico do curso de Bacharelado em Ciências Sociais da UNIOESTE/Campus Toledo.

A problemática das gerações em Sociologia forma um campo de observações privilegiado para se compreender a dinâmica das mudanças sociais. Desde Comte e Dilthey essa perspectiva tem angariado diversos êxitos em pesquisas que procuram revelar a natureza das transformações sócio-culturais que se operam de maneiras cada vez mais dinâmicas na contemporaneidade. Historicamente, a construção do conceito de gerações assumiu diversos significados desde suas primeiras formulações teóricas. É possível notarmos contrastes conceituais não só entre formulações sociológicas, mas entre diversas áreas do conhecimento como a Antropologia e a Filosofia, por exemplo. Assim, temos hoje uma considerável produção acadêmica não apenas sobre as gerações, mas também lançando mão do conceito como ferramenta de análise de outros aspectos da vida social de maneira relativa, associando, por exemplo, gerações a etnia, identidade, gênero e/ou classes sociais.
Nesse breve trabalho, procuramos estabelecer um diálogo entre dois pensadores clássicos da problemática geracional: Karl Mannheim e Shmuel Eisenstadt. Nosso foco de análise recai sobre a atenção que ambos dispensam sobre a categoria de juventude e as formas como os autores concebem o papel da juventude na sociedade contemporânea. Podemos resumidamente sublinhar a tendência de Mannheim em enfatizar o caráter sócio-revitalizador da juventude em contrassenso à formulação sócio integrativa de Eisenstadt. Para Mannheim a dinâmica da sucessão geracional, atrelada aos contextos histórico e social de uma época, desencadeia a mudança social. Isso ocorre de maneira mais acentuada na modernidade, devido ao fato da juventude estar mais exposta às transformações que esse contexto suscita. Por isso afirma que a juventude é o nicho social contingente da transformação social. Já Eisenstadt destaca o caráter integrativo da juventude baseado numa análise das funções integrativas dos papéis sociais. Segundo sua concepção, a orientação particularista da esfera familiar em contraste com a orientação universalista da sociedade mais ampla, desencadeia uma tensão nos mecanismos de integração social. Essa tensão se concentra na época de juventude e seu corolário é o surgimento de “grupos juvenis” que são, segundo ele, mecanismos de readequação do comportamento dos jovens para que superem a educação familiar e reproduzam o comportamento universalista presente na sociedade mais ampla. Podemos perceber que entre Mannheim e Eisenstadt há uma divergência quanto ao “compromisso” social da juventude, respectivamente caracterizados em: transformar ou reproduzir o quadro sociocultural vigente na sociedade. Porém ambos consideram a juventude como a pedra-de-toque da problemática da mudança social numa perspectiva geracional. Essa identificação consensual os aproxima teoricamente. Mas além de mostrar que não são excludentes, sugere que, em certo sentido, podem ser os autores abordados considerados complementares, na medida em que evocam uma dupla possibilidade de papéis sociais para a juventude.
Por fim, buscamos responder a questão assim formulada: qual o papel da juventude contemporânea? Integração e reprodução ou transformação do coletivo? Sugerimos, afinal, uma ambivalência social dessa categoria, baseada no seu duplo papel social de continuidade e ruptura com os imperativos sociais, dependendo das relações estabelecidas entre as gerações no interior dos campos sociais. Sendo assim, supomos, a orientação juvenil para a integração ou ruptura sociocultural está relacionada com a estrutura da distribuição de poder no interior dos campos de atuação humana. Assim, para compreender o universo juvenil, há de se debruçar sobre um ou outro campo social determinado e analisar a disposição da estrutura geracional estabelecida em seu interior. Hipoteticamente, caso o jovem tenha poucos poderes em determinado campo – como o da política, por exemplo, onde alguns cargos só estão disponíveis para adultos – deve estar direcionado para a transformação. No caso inverso, sua orientação seria a integração e reprodução da estrutura coletiva. Essa sugestão teórica de pesquisa, no entanto, não foi aplicada, caracterizando apenas um apontamento para posterior estudo exploratório.


EIXO: EDUCAÇÃO E SOCIEDADE


OLHARES COTIDIANOS SOBRE A GESTÃO ESCOLAR: TEORIA, PRÁTICA E SOCIABILIDADES

Autora: Thalita Rodrigues Machado
Graduanda do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF
Bolsista do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação
Co-autor: Gabriel Volpi Muzzi Martins
Graduando do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
Bolsista do Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação

A pesquisa Olhares cotidianos sobre a gestão escolar está sendo promovida pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora. Num esforço de aproximar o ímpeto investigativo da academia às práticas escolares da educação básica, foi acordada com seis escolas da Rede Municipal de Juiz de Fora, Minas Gerais, uma parceria que está possibilitando o desenvolvimento deste estudo.  
         O andamento da pesquisa se dá em três etapas, a saber: a investigação do objeto, a análise das questões suscitadas pela investigação e, por fim, a devolução das conclusões inferidas pela pesquisa, de forma didática, aos sujeitos investigados. Sendo assim, a escolha metodológica envolvida no processo está diretamente ligada a este caráter evolutivo das etapas. Portanto, a investigação é feita a partir do método de Grupos Focais, a análise dos dados a partir das transcrições desses grupos e da elaboração de cases.
Este instrumento é construído a partir de insumos gerados na primeira etapa do processo, possibilitando, destarte, a fase ulterior de intervenção/devolutiva como uma proposta de discussão e apontamento de possíveis decisões pelos pesquisados aos dilemas descritos nessas narrativas.   
            Na primeira etapa do projeto foram realizados grupos focais com professores e gestores de seis escolas municipais de Juiz de Fora – MG, com objetivo de colher informações e pareceres acerca das principais problemáticas, educacionais e sociológicas, envolvidas no universo escolar e seu entorno, tais como: dissonância entre a linguagem da Academia e dos profissionais da educação, influência de teorias educacionais em sua prática cotidiana, desamparo pedagógico, relação do corpo docente com a equipe gestora, relação família e escola, usos do espaço escolar, etc.
            Os grupos seguem a seguinte divisão dentro do cronograma: 1º – Grupos Focais de Gestão e Letramento (participam apenas professores); 2º - Grupos Focais de Gestão e Matemática (participam apenas professores); 3º - Grupos Focais Mistos de Gestão e Liderança Escolar (participam professores e gestores); 4º - Grupos Focais de Gestão e Liderança Escolar (participam apenas diretores). Esta etapa encontra-se em andamento, tendo sido realizados até o presente momento 90% dos grupos focais, com duração aproximada de 2 horas cada.
            Uma análise parcial dos dados permite identificar uma postura resistente por parte dos professores em relação à Universidade, apoiada no descompasso existente entre as teorias acadêmicas e suas condições objetivas de trabalho. Em todos os grupos focais foram explicitadas dissonâncias entre a linguagem proferida pela academia, as alternativas propostas, e a vivência profissional de docentes e gestores.
            Em certa medida, o ruído existente na comunicação entre escola e Universidade manifesta-se, também, na relação entre escola e família. Não foram englobados neste projeto familiares de alunos, todavia, de acordo com o relato dos docentes e gestores, a escola passa por um processo de depreciação de autoridade perante os alunos e caminha numa distância abissal como instituição produtora e reprodutora de significado para a vida social.
            Ao passo que a escola perde sua credibilidade, seu significado de esperança de ascensão econômica e social, observa-se que a dimensão simbólica experienciada pela maioria dos alunos é de um contexto de falta de estrutura das instituições e de configurações sócio-econômicas problemáticas. Além disso, dizem ainda os docentes que a desestrutura familiar e seu déficit histórico de capital cultural e hábitos de estudo influencia diretamente na crise da continuidade do aprendizado. Ou seja, para os professores grande parte dos pais comunga da crença de que o ensino se dá “do portão para dentro” da escola, enquanto a escola reclama a descontinuidade do processo de aprendizagem “do portão para fora”. O relacionamento de desconfiança sobre a autoridade escolar é exemplificado pelos professores, mormente, através de casos de indisciplina dos alunos, que quando relatados aos pais, suscitam deles reações cada vez mais ríspidas. Por exemplo: em décadas passadas a pergunta era: “O que meu filho fez de errado?”; e agora é: “O que a escola fez com meu filho?” Essa relação pouco generosa com o conhecimento e o descrédito à autoridade escolar é apontada como causadora de graves dificuldades ao gestor e ao docente, principalmente para manter a importância da educação no imaginário dos alunos e ou torná-la atrativa.
            Para além do conhecimento das temáticas supracitadas, o projeto propõe uma intervenção nas escolas contempladas, ancorada na discussão de cases, que, grosso modo, são ferramentas pedagógicas elaboradas a partir de fatos reais apurados.
            Será criado na fase devolutiva, de acordo com cronograma previsto, um espaço de discussão e reflexão dos resultados obtidos em cada escola. A leitura compartilhada dos cases, que condensarão as situações reais investigadas, de forma impessoal, propiciará um olhar dos profissionais sobre seu próprio cotidiano, de forma diferenciada e objetiva.
            Pretende-se, com a devolução dos cases, enriquecer o repertório de ação dos gestores e professores da educação pública à medida que este instrumento coloca os sujeitos em contato com problemas característicos de sua profissão, permitindo que entendam, avaliem e apontem soluções para dilemas corriqueiros, que sem a liderança e a reflexão necessárias, podem se tornar grandes entraves. Espera-se que, ao exercitar nestes profissionais a capacidade de solucionar demandas, bem como lidar e liderar situações-problema, eles possam contribuir significativamente para a melhoria da educação.
            Cases também são ferramentas que podem contribuir para a identificação dos problemas enfrentados pelas escolas; para o conhecimento e a compreensão da gestão de escolas públicas brasileiras; para a elaboração de materiais didáticos dirigidos aos cursos de capacitação; e fornecer elementos para a elaboração de intervenções em um universo mais amplo de escolas, em prol da melhoria da qualidade do ensino ofertado. 


O CORAÇÃO DA ESCOLA DE LATA: AS DESIGUALDADES EDUCACIONAIS E A REPRODUÇÃO SOCIAL.

Marcelo Francisco
Graduando do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná - UFPR

O presente artigo tem a pretensão de promover um debate sobre a falta de estrutura para o desenvolvimento de atividades educacionais nas regiões mais desfavorecidas economicamente e, a partir disso, pontuar a possível repercussão desse fato para o decorrer das “oportunidades” educacionais; nesse caso, em especifico, será analisado – como forma de instigar o debate - uma reunião que aconteceu no Colégio Ivanete Martins de Souza, bairro Guarituba no município de Piraquara/PR. Essa reunião foi convocada pela sociedade civil, juntamente com a comunidade escolar, e buscava entregar um abaixo assinado de aproximadamente 4 mil assinaturas (reivindicando a construção de mais colégios na região) para a secretária de educação do Estado do Paraná: a professora Yvelise Arco-Verde. Pode-se observar que o abaixo assinado e a entrega do documento foi algo simbólico, pois não amarrou o poder publico a construir novos Colégios, entretanto, estimulou a população a debater o assunto e fez o problema tomar, de alguma forma, repercussão nas instâncias administrativas do Governo.


EDUCAÇÃO DO CAMPO

André Luiz de Souza
Graduando do Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Campus de Toledo

Nas ultimas décadas a educação do campo tem motivados inúmeros debates, pesquisas, políticas publicas e demandas de movimentos sociais.  No inicio dos anos de 1990, MST (Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra), unindo força com outras organizações sociais, se articulou num movimento nacional por uma educação do campo, com mobilização e forte pressão social. Neste sentido, mudou o foco teórico da discussão, pensando a conceituação da educação do campo para contra por à educação rural, apropriando-se de uma educação em reciprocidade daqueles que vivem e trabalham no campo.
O objetivo deste ensaio visa o debate critico sobre este movimento em torno a educação do campo. Para tanto, busca-se submeter à conceituação “educação do campo” a dialética e debater, em primeiro lugar, os extremos estabelecidos entre campo e cidade. Também nos interessa aprender o movimento que compele a transformação social.  Entretanto, no materialismo histórico a prática é concebida como uma “ação matéria, objetiva, transformadora, que corresponde a interesses sociais e que, considera do ponto de vista histórico-social, não é apenas produção de uma realidade material, mas sim a criação e desenvolvimento da realidade humana” (VÁZQUEZ, 1968, p.213).
Materialismo histórico-dialético, em seus preceitos, funda-se em classe que são expressão das peculiares relações sociais e, portanto, consisti em aprender em sua natureza intima os problemas reais, concretos, relativos à vida, ao trabalho e a educação. Porém, impõe um comprometimento com a realidade.  Marx salienta que os homens “produzem as relações sociais em conformidade com sua produtividade material, produzem também as idéias, as categorias, isto é, as expressões abstratas idéias (...) destas mesmas relações sociais. Assim, as categorias são tão pouco eternas quanto às relações que exprimem. São produtos históricos e transitórios” (MARX, 1982, p.551).
Nesta perspectiva, desenvolvemos algumas ponderações tendo com pano de fundo a percepção de que a ciência é expressão do movimento do real, é fruto da realização histórica dos homens e, além disso, é requisito fundamental para a produção da vida na atualidade. Neste intuito, apresentamos três eixos de discussão. No primeiro, problematizamos a respeito da falsa dualidade entre campo e cidade, no segundo avaliamos os limites da educação do campo no âmbito das políticas de Estado e, por último, a ruptura com os paradigmas com a educação rural. Apresentamos nossas leituras a respeito da formação de diferentes territórios; a Educação Rural que sintetiza o campo do agronegócio e a Educação do Campo a agricultura familiar. 
Esperamos que esta contribuição possibilite debate entre as pessoas que se preocupam com a construção de um Brasil mais justo e democrático, onde o campo seja ocupado por diferentes modelos de desenvolvimento e que seja plena a liberdade de escolha do mundo que queremos.


OS PRIMÓRDIOS DO SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO

Carmen Pardo Salata
Docente do Curso de Serviço Social – Unioeste

Este artigo descreve a pesquisa ora em curso, cujo tema é considerado relevante para a área: Os primórdios do Serviço Social na Educação. O texto está organizado em quatro itens, ou seja: 1. Conjuntura histórica sobre os primórdios do Serviço Social na Educação. 2. A marginalidade como “problema” na Educação. 3. A Educação sob a ideologia positiva de Émile Durkheim e sua influência no Serviço Social. 4. A importância do espaço do Serviço Social na Educação. Esta pesquisa desenvolve-se a partir de abril de 2011 e está inserida em uma das atividades do “Grupo de Pesquisa e Defesa dos Direitos Humanos Fundamentais da Criança e do Adolescente”, que por sua vez, faz parte de um núcleo estadual composto pelas universidades estaduais do Paraná, ou seja: UNIOESTE, UEL, UEM, UEPG, UNICENTRO, FAFIPAR (GPEDDICA). O interesse em conhecer a demanda pelo Serviço Social na Política de Educação no Paraná teve início em 2003 no início do exercício da docência na Unioeste - Campus de Toledo, como docente supervisora de Estágio. Nesse ano foi possível identificar um número reduzido de assistentes sociais em escolas públicas. Muitas dúvidas e interrogações sobre a limitação desse espaço de trabalho para assistentes sociais foram surgindo ao longo desse tempo, e até o momento atual verifica-se a existência de uma demanda expressiva por profissionais nessa área. Mas isto não ocorre apenas no Paraná, é um evento nacional. Os objetivos são: ampliar os estudos sobre o Serviço Social na área da Política Social de Educação desde a sua gênese, para se conhecer as demandas junto ao conjunto CFESS/CRESS e situando as mesmas no Estado do Paraná; realizar levantamento de dados sobre as competências e atribuições específicas com assistentes sociais da Educação que estejam trabalhando em todos os níveis de Educação, ou seja: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Superior; produzir conhecimentos sobre os avanços políticos e legais sobre a realidade do Serviço Social na Educação no Estado do Paraná. O método de conhecimento é o histórico-crítico, estruturado pela Teoria Social de Marx, o que viabiliza a apreensão da realidade em seu movimento dialético. Em sua perspectiva histórica, este artigo pretende-se refletir a inserção do Serviço Social na Educação como um campo de intervenção a partir de 1946, cujo objetivo é compreender a necessidade de assistentes sociais nessa área de Educação, considerando-se a conjuntura socioeconômica, política e ideológica daquele período.
A análise inicia-se com a industrialização crescente no capitalismo monopolista que exigia mão de obra qualificada, sendo que esta, não era viabilizada pelo Estado até aquele momento. A partir de 1946, o Governo Federal instituiu um sistema de ensino profissionalizante paralelo ao ensino público secundário (hoje Ensino Médio). E, a responsabilidade de proporcionar esse aprendizado industrial ficou a cargo de organizações privadas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC. O grande diferencial dessa modalidade de ensino é que os alunos recebiam salário para estudar e serem treinados, de forma que se tornou um grande atrativo para os setores mais pobres da população, mas que favoreceu também criação de um estigma para aqueles que ingressavam nessas organizações- “escola de pobres.” Em 1946, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra, o Brasil elabora sua quinta Constituição Federal sendo considerada como “a mais democrática” até então. Foi nessa constituição que pela primeira vez, dois artigos sobressaíram-se. O primeiro garantiu inserção ao partido comunista de representação da sua bancada, o que durou apenas seis meses, visto que a correlação de forças representadas pelo capital deu a direção política que mais convinha ao projeto burguês. O segundo, na Educação em seu artigo 5°, parágrafo 15°, alínea d, fica garantida pela primeira vez à União, legislar sobre as “Diretrizes e Bases da Educação Nacional” (Brasil, 1946). Entretanto, essa legislação somente se concretizou quinze anos após, em 1961, pois desde o princípio de sua elaboração, “o projeto original das Diretrizes e Bases da Educação esbarrou na correlação de forças representada pelas diferentes posições político-partidárias que tinham lugar no Congresso Nacional” (SAVIANI, 1987, p. 49). Convém lembrar que mais uma vez o capital demonstrou a sua força, pois os latifundiários das fazendas de café (São Paulo), das as bacias leiteiras (Minas Gerais) e as indústrias do Rio de Janeiro e São Paulo revezavam-se no comando da nação.
Portanto, a educação atendeu apenas uma parcela da população, aquela cooptada pelo sistema de produção capitalista, Nesse processo, o autor reflete especificamente o período das primeiras quatro décadas, correspondente às teorias que conformaram a Educação, no qual o período histórico é o mesmo de quando o  Serviço Social ingressou nessa área de atuação. Com o enfoque da “marginalidade” esse fenômeno foi estudado em dois grupos de  teorias da Educação, com várias tendências teóricas. No primeiro, teorias não-críticas já que os teóricos da Educação à época concebem a educação como autônoma e buscam compreendê-Ia a partir dela mesma. Este período demarca-se às décadas de 1920 a 1940 como um instrumento de equalização, isto é, pretendeu  uniformizar, equilibrar as relações entre educação e sociedade portanto, de superação dessa “marginalidade”. Com o desenvolvimento dessa pesquisa, a contribuição esperada é: produzir artigos e comunicações sobre o resultado da pesquisa para favorecer a formação dos acadêmicos das ciências sociais aplicadas, em especial de Serviço Social, possibilitando um grupo de estudo sobre o Serviço Social na Educação no Campus de Toledo; Socializar os resultados com o NUCRESS – Núcleo de Serviço Social Regional sediado em Cascavel - Assistentes Sociais da área de Educação dos municípios envolvidos e Conselho Regional de Serviço Social 11ª Região/PR; Contribuir com conhecimentos sobre a necessidade de assistentes sociais nas escolas municipais de Toledo. Para isso, realizar intercâmbio com a Câmara de vereadores do Município, com a perspectiva de se criar um projeto de lei que possa inserir assistentes sociais no quadro ocupacional da prefeitura para as escolas municipais.


PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS E DIRETRIZES ESTADUAIS:
UMA ANÁLISE EM PERSPECTIVA

Autora: Juliana Almeida Matos
Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus Toledo (UNIOESTE).
Co- autora: Jaqueline Resmini Hansen
Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus Toledo (UNIOESTE).
Co-autora: Kamila Guimaraes Schneider
Graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus Toledo (UNIOESTE).

Resultado de um trabalho apresentado à disciplina de Metodologia de Ensino em Ciências Sociais I, inscrita à grade do terceiro ano do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/ UNIOESTE, a presente comunicação tem como escopo traçar um panorama comparativo entre os conteúdos apresentados tanto pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), quanto pelas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná (DCEs), com o intento de trazer à luz um entendimento acerca da configuração do sistema de ensino básico atual – a nível nacional e estadual, respectivamente –, delineando suas prerrogativas, problemáticas, falhas e contradições. A problematização aqui sugerida se faz necessária segundo o entendimento das autoras desse trabalho, principalmente por duas razões: na medida em que consideramos indispensável para a formação do Licenciado em Ciências Sociais, esclarecer e compreender plenamente, as orientações, diretrizes e parâmetros, que regem o sistema educacional e o trabalho pedagógico em sua estrutura e constituição e, especialmente, pela deficiência deste esclarecimento por nossos colegas compreendidos, tanto entre os  graduandos quanto dentre o público  egresso à universidade e atuante no ensino de Sociologia.
Para a concretização da reflexão aludida, pretendemos primeiramente, historicizar o processo de elaboração dos dois documentos anteriormente referidos, tendo em vista a influência direta dos momentos histórico-sociais circunscritos aos mesmos no que concerne ao teor dos projetos. Posteriormente, partindo de discussões conceituais como as empreendidas por Dermeval Saviani, Amaury Cesar Moraes, Alexandra Baczinsk, Ivania Píton e Leandro Turmena, apresentamos também o desígnio de abarcar, sobretudo, a orientação da prática pedagógica, assim como, a estruturação curricular dos conteúdos, áreas ou campos de conhecimento; a metodologia de ensino e aprendizagem, da organização do conhecimento, dos métodos avaliativos, arrolando concomitantemente à especificidade do ensino de Sociologia.


PROJETOS DE APRENDIZAGENS COMO ESTRATÉGIA NA CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS

Jhonatan Carlos dos Santos
Graduando do Curso de Gestão e Empreendedorismo da Universidade Federal do Paraná - UFPR/Litoral

O Projeto político pedagógico da Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral busca potencializar o processo de emancipação da comunidade acadêmica e dos atores que se envolvem com o projeto. Procura atingir este objetivo através de seus princípios fundamentais, designadamente: a) do comprometimento da universidade com os interesses coletivos; b) da educação como totalidade e; c) da formação discente pautada na critica, na investigação, na pró-atividade e na ética capaz de transformar a realidade. A fim de materializar estes princípios, instala-se três espaços curriculares, os Fundamentos Teóricos Práticos, as Interações Culturais e Humanísticas e os Projetos de Aprendizagens. Os Projetos de Aprendizagens se constituem em espaços onde temas de interesse dos estudantes são desenvolvidos com o acompanhamento do(s) professor(es/as) mediador(es/as). O Projeto de Aprendizagem denominado “Participação das comunidades tradicionais no conselho gestor da Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba – CONAPA” é utilizado aqui para uma reflexão sobre este espaço formativo. Com início no ano de 2008, o projeto tem como foco o acompanhamento e analise dos processos de participação de representantes das comunidades tradicionais no CONAPA.
O projeto teve sua gênese em atividades realizadas no espaço das Interações Culturais e Humanísticas, onde representantes comunitários levantaram a problemática da relação entre o CONAPA e as comunidades locais. As ações ao longo do Projeto de Aprendizagem foram empenhadas por uma equipe multidisciplinar, composta por estudantes e professores do Setor Litoral, provenientes de diversos campos do conhecimento. A Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, APA de Guaraqueçaba instituída no final do regime militar envolve três municípios do litoral norte paranaense e um município da Região Metropolitana de Curitiba. Com a obrigatoriedade criada pela lei que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC, seu conselho gestor, o CONAPA, é criado no ano 2002. Desde o início de sua implementação, a APA tem gerado conflitos com e entre os atores locais, portanto é no CONAPA que acredita-se ter um espaço de mediação para estas disputas. Com a práxis proporcionada pelo desenvolvimento do presente Projeto de Aprendizagem, conceitos e teorias com origem nas ciências naturais, sociais e humanas se tornaram fundamentais na compreensão dos atores, suas relações e dinâmicas com o conselho gestor. O processo metodológico foi pautado pelo acompanhamento das reuniões do CONAPA, vivências junto as comunidades, pesquisas bibliográficas e documentais e, discussões e debates públicos sobre a temática. Diversos atores sociais como representantes de comunidades tradicionais, movimentos sociais, organizações da sociedade civil, instituições governamentais, empresários, universidades e outros conselhos gestores foram envolvidos de diferentes formas ao longo do projeto.
A análise e descrição realizada no presente trabalho percorre em um primeiro momento os espaços formativos do Setor Litoral da Universidade Federal do Paraná, situando os Projetos de Aprendizagem neste contexto. Posteriormente analisa a concepção, o desenvolvimento e os desdobramentos do presente projeto de aprendizagem, a partir da perspectiva das ciências sociais. Por fim realiza-se uma reflexão sobre as potencialidades e os limites dos Projetos de Aprendizagens, enquanto espaços de construção de conhecimentos nas áreas das ciências sociais, humanas e naturais.


REFLEXÕES SOBRE OS PARADIGMAS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO EM ADMINISTRAÇÃO

Karla Angélica do Rosário
Graduanda do Curso de Administração da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR/Pato Branco.
Hieda Maria Pagliosa Corona
Socióloga e Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento; Professora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR, Campus Pato Branco e pesquisadora do CEPAD/UTFPR

Através de um quadro de referências baseado em autores da área, o artigo busca efetuar uma análise sobre as diferentes posturas e estruturas de ciência e de conhecimento que permeiam as pesquisas no campo da Administração. Para tanto são abordadas considerações sobre epistemologia e, por conseguinte, a formação do conhecimento e da ciência, seguida pela discussão dos paradigmas subjacentes a ciência social e sua contribuição para a administração, indagando sobre as possibilidades, limites e potencialidades destes paradigmas. Outrossim, aborda-se a teoria crítica como possibilidade paradigmática e apresentam-se algumas reflexões a respeito, as quais conduzem a pensar a natureza da pesquisa científica nas ciências sociais, especificamente, na administração, e a considerar esse saber como não estático e em constante transformação. Preocupa ainda, uma reorientação do conhecimento no sentido da formação de profissionais com formação integral, portanto, com saberes menos fragmentados e de gestores e pesquisadores com uma visão mais ampla e crítica, em busca de uma superação do pragmatismo que reveste a teoria e a prática das organizações.
O objetivo principal é dar evidência às reflexões sobre as diferentes posturas e estruturas de ciência e de conhecimento que permeiam as pesquisas no campo da Administração, através de um quadro de referências que possibilitem refletir sobre as principais tendências epistemológicas e paradigmáticas que permeiam o conhecimento, a prática e as pesquisas científicas nessa área. Para tanto são abordadas considerações sobre epistemologia e, por conseguinte, a formação do conhecimento e da ciência bem como os paradigmas subjacentes à ciência social e sua contribuição para a administração, indagando sobre as possibilidades, limites e potencialidades destes paradigmas, no cenário da mudança global, que compreende atualmente as organizações. Segundo Martins (1994), enfoques diferenciados que contribuem com a “construção do conhecimento”, em reação ao paradigma hegemônico, de base funcionalista, particularmente em administração, podem ajudar a ampliar a compreensão da complexidade em que se situam as organizações, e a dar resposta aos desafios na atualidade.
Destarte, aborda-se a teoria crítica como possibilidade paradigmática e, entendendo ser fundamental a questão relação entre teoria e prática para os movimentos críticos, evidencia-se a relevância dessa abordagem para a experiência formativa tanto no campo do ensino como da pesquisa em administração. No contexto das grandes transformações que norteiam o campo cientifico, em especial o campo da administração, e seus reflexos no ensino e na pesquisa, torna-se imperativo discutir o papel da ciência, sua relevância, seus métodos e objetos de ensino e pesquisa.  Acredita-se que se torna válido buscar reflexões sobre a natureza da pesquisa científica e de como o saber é construído nas ciências sociais, especificamente, na administração, considerando-se que esse saber não é estático e está em constante transformação.  Através do referencial abordado, entende-se ainda, que a relação entre teoria e prática, necessita referenciar-se pelo conceito de práxis, tomando um caminho oposto ao da formação individualista e competitivista. Construindo uma teoria emancipatória, para além do capital, articulada com a busca pela mudança social, sendo a educação a mais importante via para tal intento.


EIXO: ESTADO E PODER


A COMUNA DE PARIS: CONTRADIÇÕES DO ESTADO BURGUÊS E PODER EMANCIPATÓRIO

Milton Pinheiro
Docente da Universidade Estadual da Bahia - UEBA e Doutorando PUC/SP  

Estamos no curso, esse ano, da passagem dos 140 anos da Comuna de Paris, façanha emancipatória que colocou em cheque as contradições do Estado burguês e criou um cenário para outro poder de classe. Para entendermos essa revolução temos que analisar a França, nos seus antecedentes políticos.
O ano de 1848 entra para a história da humanidade, em especial para a história francesa, como um momento de transformação do regime político. A república surge para substituir a monarquia, é um momento de despersonificar o poder. Mas, como se apresenta esse novo poder? Será a original forma encontrada para possibilitar a dominação de uma classe sobre o Estado e, nesse caso, a burguesia?
Todavia, a procura constante da república como possibilidade do sonho da igualdade social esbarrou no projeto da burguesia que se veste do manto da dominação, perde suas características progressistas e assume-se como classe dominante, lançando mão de um projeto conservador.
Nesse desenvolvimento da história surge o bonapartismo que se concretiza a partir de algumas características do processo político, em que a existência de equilíbrio entre os projetos em disputa, onde nenhuma das classes, ou frações de classe, consegue ter a hegemonia social e a capacidade para impor a sua dominação política. Napoleão III, um líder carismático, com grande percepção conjuntural, articulado pela presença do campesinato na sua base social, governa até 1870. Ou seja, o bonapartismo é consequência do equilíbrio entre as classes, da falta de hegemonia política e de um líder com base social a serviço de uma articulação das diversas frações de classe da burguesia.
A dinâmica da luta de classes criou o contexto da Comuna de Paris com todas as possibilidades. A primeira é que a Comuna se apresenta como conseqüência da guerra franco-prussiana, a segunda é que o momento aberto pela derrota em Sedan consolida um vazio político, onde se manifestam na arena da batalha as forças do governo de defesa nacional e depois do governo provisório, por um lado, e o poder que se estabelece a partir das massas insurretas no seu espontaneismo, e no governo operário da Comuna, por outro. A terceira é que também se apresenta nesse ciclo uma perspectiva de padrão histórico para entender as revoluções, todavia, sem se constituir em um dogma. No entanto esse padrão nos dá sinais para compreender como a revolução proletária, em especial nesses períodos mais recentes da história, nos apresenta um novo roteiro histórico pautado em lutas democráticas e revolucionárias, em guerras e revoluções. Esses sinais de um padrão histórico vão se manifestar na revolução russa e em outras revoluções no decorrer do século XX. Mas em especial, podemos tirar como lição e não como exemplo desse contexto, um conjunto de sinais históricos que partem da Comuna em Paris, e se confirma na revolução russa de 1917.
A Comuna é o primeiro Estado operário e inicia o processo histórico de revolução proletária da era contemporânea. A Comuna inicia o ciclo das revoluções proletárias e se consolida enquanto perspectiva revolucionária. A Comuna de Paris desnudou que a reprodução social do sistema, passa pela afirmação da ordem do capital, pela submissão do trabalho assalariado e pela dominação de classe, através do Estado.
A partir da derrota dos trabalhadores, após os 72 dias da Comuna, consolidou-se a contra-revolução burguesa.  Mas com o advento da primeira guerra mundial uma nova vaga revolucionária vai começar, agora com a presença do sujeito coletivo, o operador político que passamos a chamar de partido de classe que chega ao poder com a revolução russa de 1917, construindo os sovietes. A Comuna nos traz a lição, mais uma vez, de um poder de transição, e esse poder de transição que desarticula a repressão política, socializa o exercício do poder político, é o primeiro passo para a transição, o governo operário é uma democracia de novo tipo, tendendo a ser socialista como dizia Marx. A Comuna consegue se atualizar de forma brilhante com a revolução russa, afirmaria o comandante da revolução de outubro, Lenin.


UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO DO GOVERNO SARNEY (1985-1989) COM AS ENTIDADES QUE REPRESENTAM OS TRABALHADORES A PARTIR DA REVISTA VEJA.

Suzane Conceição Pantolfi Tostes
Mestranda do Programa e Pós-Graduação stricto sensu em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon

O presente trabalho tem por objetivo investigar de que forma a revista Veja em suas matérias publicou a relação da CUT e do PT com o Governo Sarney entre os anos de 1985-1989. Haja vista que a CUT e o PT durante a década de 1980 foram à expressão mais combativa de resistência a expansão das medidas capitalistas no Brasil. As entidades CUT e PT atuaram em defesa da classe trabalhadora, reivindicando melhorias salariais, melhores condições de trabalho, direito a greve e entre outras reivindicações. Pois durante os anos de 1985-1989, o Governo Sarney teve como meta a diminuição da inflação e o aumento dos índices de crescimento da economia brasileira. Só que para o Governo Sarney conseguir atingir seus objetivos de retomar o crescimento econômico no país foi preciso manter a classe trabalhadora em péssimas condições de trabalho e sobrevivência, intensificação do arrocho salarial. Mas como já mencionamos anteriormente o período da década de 1980, foi marcado pela intensificação das mobilizações da classe trabalhadora, como respostas aos longos anos de arrocho salarial, repressão e intensificação do trabalho e da exploração. A classe trabalhadora através de seus movimentos sociais politizados foram às ruas protestarem contra sua condição de vida de emprego, organizaram grandes greves pelo país. Os trabalhadores se utilizaram de sua maior arma de resistência contra os patrões as greves bem organizadas e com conteúdo político e social. Na tentativa de analisar de que forma a revista Veja noticiou a relação da CUT e do PT com o Governo Sarney, iremos averiguar através da análise das matérias da revista. As revistas Veja selecionadas para análise foram as matérias que faziam referências aos embates, enfrentamentos entre as organizações dos trabalhadores contra as medidas econômicas implementadas e decretadas pelo Governo Sarney.
Utilizamos a revista Veja como objeto de pesquisa por entendermos que os meios de comunicação da grande imprensa manipulam as informações noticiadas em seus veículos. Essa manipulação se dá através da escolha dos fatos que serão noticiados em determinado meio de comunicação e essa escolha do fato jornalístico acontece de acordo com a visão de mundo do dono do meio de comunicação. Nesse processo de escolha dos fatos jornalísticos os leitores e o público dos meios de comunicação só terão acesso as “notícias” que estiverem de acordo com a linha editorial da empresa, que é a visão de mundo do dono da empresa. Partindo dessas colocações partimos do pressuposto de que a revista Veja é um aparelho privado de hegemonia por possui uma determinada visão de mundo da qual compartilha com algumas frações da classe burguesa brasileira. A revista tenta construir consenso sobre sua visão de mundo e do projeto social que reivindica para as demais classes sociais. A revista Veja sendo um aparelho privado de hegemonia, tenta organizar a sociedade civil, tentando criar um consenso em torno do projeto social que garante a hegemonia da classe burguesa dentro do sistema capitalista.


EIXO: POLÍTICAS PÚBLICAS ,
DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO


ESTADO CAPITALISTA E ASSISTÊNCIA SOCIAL : O GOVERNO LULA E O PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Isabel Grassiolli
Mestranda do Programa de Pós Graduação em História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. Linha de Pesquisa Estado e Poder

Os últimos trinta anos no Brasil foram marcados por profundas transformações políticas sociais, as quais alteraram as formas de organização da vida em sociedade. A ampliação do Estado e a complexificação de suas funções na organização da vida em sociedade tem se tornado cada vez mais presente no cotidiano das pessoas. Estas transformações apontaram para modernização do Estado brasileiro e para uma evolução no reconhecimento de direitos sociais no qual o  problema da fome e da pobreza tem ganho destaque especial no horizonte das políticas sociais no Governo Lula – PT. No cenário político atual o Programa Bolsa Família (P.B.F) aparece como principal medida no combate a pobreza e extrema pobreza, é de interesse central neste trabalho destacar as transformações vividas durante oito anos do governo Lula – 2003 à 2010 – na área das políticas sócio assistenciais, com perspectiva de identificar qual a “natureza” dessas transformações,ou seja, quais setores sociais tem se beneficiado dessas mudanças? Para isso o presente trabalho pretende trazer uma análise critica dos Manuais de Capacitação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS e o Programa Bolsa Família – PBF do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome – MDS, entendendo estes materiais como uma das formas encontradas pelo governo Lula para disseminação de um dado projeto político a partir do qual se constrói uma dada visão de mundo, educando os sujeitos e criando um sentido histórico social para toda sociedade. Neste sentido, é parte de nossos objetivos destacar o papel de direção moral e intelectual que as lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT) tem cumprido no seio do Estado como a via necessária para condução desse projeto (expansão dos circuitos de acumulação do capital). O presente trabalho se propõe a ler o Programa Bolsa Família e as mudanças conjunturais ocorridas no cenário brasileiro na última década a partir de uma perspectiva histórica ao identificar quais as novas formas de intervenção do Estado nesta área entendendo essas  transformações como expressão da luta de classes no Brasil. 


A POPULAÇÃO DE RUA: CARACTERIZAÇÃO E PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL E DO ESTADO – DISCUSSÕES INICIAIS.

Gisele Resmini Hansen
Graduanda do Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Toledo

A proposta desta pesquisa é apresentar o fenômeno social “população em situação de rua” relacionado com suas prioridades ontológicas. Entende-se por população em situação de rua todas as pessoas que têm vínculos familiares quebrados e vêem a rua como referência. Considera-se este fenômeno como conseqüência da desigualdade social, da pobreza e do exército industrial de reserva derivados da acumulação primitiva do capital, ou seja, surgiu a partir do momento em que a sociedade feudal chegou ao fim e as indústrias nascentes não deram conta de absorver todas as pessoas que foram expulsas de suas terras. Sendo assim, encontra-se no cerne do modo de produção capitalista, o que torna impossível a sua erradicação no presente momento histórico.
As idéias de Marx, organizadas e expostas por Lukács e Mézsaros são norteadoras da pesquisa. Utiliza-se de formulações de Sérgio Lessa, Ivo Tonet, José Paulo Netto e Maria Lúcia Lopes da Silva para explicar as proposições feitas em relação ao fenômeno em questão. Dentro deste contexto, o complexo trabalho, entendido como atividade humana que possibilita a transformação, é tratado como categoria fundamental e mediador dos demais complexos, que são tratados como secundários, mas não significa que não tenham importância, fazem parte de uma totalidade, de uma unidade, onde o trabalho faz a mediação entre todos os demais. Seus desdobramentos nas relações sociais da sociedade civil e do Estado são analisados para entendimento do fenômeno que está sendo estudado. São discussões iniciais, visto que o projeto não está concluído, portando, neste primeiro momento é apresentada a caracterização da população em situação de rua, o papel da sociedade civil e do Estado de forma histórico-social, fazendo um contraponto entre a Política Nacional para Inclusão da População em situação de rua com o que se considera ideal, através do método proposto por Marx, apontando qual acredita-se que seria a resolução para tal fenômeno e quais ações são impossíveis de serem alcançadas no modo de produção de capitalista e o porque dessa hipótese, e, também, as impossibilidades da aplicação das propostas da referida Política Pública.


AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO: ASPECTOS ECONÔMICOS E CULTURAIS. UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS CRAS DOS MUNICÍPIOS DE CASCAVEL E NOVA AURORA – PR

Gislaine Gonçalves Santos
Graduanda do Curso de Serviço Social da UNIPAN/Cascavel-PR
Luciane Martini
Coordenadora e docente do Curso de Serviço Social da UNIPAN/Cascavel. Assistente Social, Especialista em Ciência da Família/UNIPAN. Mestre em Desenvolvimento Regional e do Agronegócio / UNIOESTE
Thuany Gabrielle Ramos Trevisoli
Graduanda do Curso de Serviço Social da UNIPAN/Cascavel-PR

A política de Segurança Alimentar e Nutricional e a formulação de seu conceito vem sendo historicamente construída. Assim o artigo analisa a trajetória para a construção do atual conceito de Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil, pontuando os eventos e acontecimentos sociais e políticos que direta ou indiretamente nortearam esse processo e estabeleceram limites e prioridades para as políticas sociais. No Brasil a questão da fome tornou-se um problema político no governo de Getúlio Vargas, no final da década de 30, período em que o país iniciava o seu processo de urbanização e industrialização. No decorrer deste artigo podemos perceber que a segurança alimentar está relacionada ás relações de poder e interesses estabelecidos a partir da revolução industrial onde se passa a exigir a mão-de-obra qualificada dificultando a venda da força de trabalho do proletariado. Além disso, o alimento passou a ser uma mercadoria, adquirindo assim um valor de troca, e com isso os fatores econômicos passam a influir na capacidade das pessoas de adquirir os alimentos. Este artigo busca identificar o contexto histórico e o desenvolvimento das abordagens e potencialidades que a SAN - Segurança Alimentar e Nutricional assumiu ao longo dos tempos no Brasil, além de fazer uma comparação entre a gestão e o desenvolvimento da Política de Segurança Alimentar e Nutricional realizada através dos Centro de Referencia de Assistência Social –CRAS  nos  municípios de Cascavel/PR e Nova Aurora/PR.


Democracia e ideologia: o caso dos parlamentares paranaenses (1995-2010)

Dhyeisa Lumena Rossi
Graduanda do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná - UFPR. Integrante do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da Universidade Federal do Paraná, NUSP/UFPR, Bolsista Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/ CNPq

Os estudos da ciência política brasileira contemporânea têm voltado sua atenção, principalmente, para o âmbito nacional. Num movimento contrário, objetivando minimizar a escassez de literatura e entendendo a importância de estudos que levem em consideração o âmbito regional, o presente trabalho analisará os valores políticos da elite parlamentar paranaense entre os anos de 1995 e 2010.
Desde já, esclareço que o entendimento de “elite” utilizado procede do método posicional de Charles Wright Mills, ou seja, parte do reconhecimento daqueles que ocupam posições formais de mando nas instituições políticas e que, conseqüentemente, têm a condição de usar do poder e tomar decisões referentes aos assuntos debatidos nessa instituição, o que não necessariamente acontece.
Para sua realização, o trabalho toma por base a teoria da cultura política de Gabriel Almond e Sidney Verba, desenvolvido no livro “The civic culture”, e conta com a, já consolidada, pesquisa “Quem governa? Mapeando as elites políticas e econômicas no Paraná contemporâneo (1995-2010)”, desenvolvida pelo Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da Universidade Federal do Paraná. Nessa pesquisa, as elites políticas foram definidas como sendo os membros da administração pública (secretários de estado, governador e vice), membros do setor parlamentar (os deputados da Assembleia legislativa estadual) e os membros do setor partidário (presidentes dos principais partidos no Estado). Sendo o objetivo da pesquisa mapear e analisar a origem social desses indivíduos, a sua trajetória profissional e os seus valores políticos e comparar o perfil da elite política dos dois governos.
Visando alcançar os objetivos propostos o texto será organizado da seguinte maneira. Na sua primeira parte, o trabalho apresentará a metodologia de pesquisa utilizada e a definição da elite analisada, bem como os critérios que orientaram a definição do universo, os números absolutos e percentuais de entrevistas para cada período da elite. A segunda parte fará uma breve explanação sobre teoria da cultura política, baseando-se principalmente na leitura dos autores, já citados, Almond e Verba, pois, assim como eles, acreditamos na existência de uma relação entre valores e ações políticas, fazendo-se necessário, para um entendimento mais completo da política, a compreensão do sistema político como algo que é cognitivamente internalizado, no âmbito sentimental e no avaliativo de uma determinada população. Em seguida, partiremos para a exposição e análise dos dados referentes à adesão da elite em questão a democracia, o tipo de democracia defendida por ela e as condições que justificariam a suspensão do regime democrático. A análise dos dados nos permitirá saber se houve alguma mudança quanto a esses pontos de adesão ao regime democrático ao longo dos dezesseis anos analisados.  Por fim, buscaremos saber se há diferenças quanto à adesão à democracia entre os parlamentares em função de suas posições no espectro ideológico.
Os dados da pesquisa foram coletados por meio de questionários elaborados e aplicados pelos pesquisadores do Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política Brasileira da Universidade Federal do Paraná – NUSP/UFPR, e posteriormente organizados em banco de dados e analisados em um programa estatístico para as Ciências Sociais (Statistical Package for the Social Sciences - SPSS).


O INSTITUTO DA APRENDIZAGEM COMO PROTEÇÃO DO MENOR À EXPLORAÇÃO LABORAL

Lucas Daniel Velasco da Silva
Advogado, Acadêmico da Pós Graduação de Direito e Processo do Trabalho da Universidade Anhanguera-Uniderp, Acadêmico na Pós Graduação em Direito Previdenciário da UNIVEL e inscrito no programa de Mestrado de Ciências Sociais da Unioeste como aluno especial.

As estatísticas das pesquisas realizadas sobre a exploração do trabalho infantil demonstram a dura realidade do país. As famílias brasileiras, por uma questão de sobrevivência diante da extrema probreza social e cultural, muitas vezes deixam seus filhos expostos a situações degradantes e não adequadas de trabalho. Entretanto, este quadro pode ser mudado a partir de políticas públicas que insiram estes jovens no mercado de trabalho de maneira correta, condizente com sua fase de desenvolvimento e social. Isso ocorre diante da possibilidade de criação de políticas governamentais orientadas para a qualidade do ensino público e a criação de programas e legislações mais abrangentes que protejam o menor possibilitando o trabalho adequado a partir de uma idade na qual não sofram prejuízos em seu desenvolvimento e estudos. Cumpre observar que, com a efetiva realização dessas expectativas se busca a diminuição nos níveis da pobreza e resgata a importância da participação e conscientização de toda a sociedade civil na superação dessas dificuldades que cercam os futuros cidadãos que podem mudar esse país, ou seja, os jovens brasileiros. Por tais razões, foram desenvolvidas legislações que amparam o adolescente para inserção do mesmo no ambiente de trabalho, tendo sido criada a lei do menor aprendiz que visa o desenvolvimento mais adequado para o adolescente que trabalha sob este regime. Dentre os requisitos necessários para que o menor possa ingressar neste regime de aprendizagem estão: A obrigatoriedade de freqüentar a escola, a inscrição em programas de aprendizagem desenvolvida sob a orientação de entidade qualificada em formação técnico profissional metódico, sendo que a supervisão das empresas em que trabalham os aprendizes e a jornada de trabalho limitada representam os principais avanços e diferenciais desse instituto na busca por uma solução ao menor que pretende trabalhar. A teoria aliada com a prática os proporciona uma nova experiência e a possibilidade de desenvolver habilidades. Dessa forma, oferece ao adolescente uma formação psíquica e social mais adequada e completa, dando direito ao estudo, ao trabalho supervisionado e a uma formação condizente com a fase da vida com que estão atravessando, fazendo com que se sintam ocupados com trabalhos saudáveis e, indiretamente, afastem-se de toda a forma de violência, sem prejudicar o desenvolvimento biológico, psicólogo ou social dos envolvidos.
De modo geral, entende-se o instituto da aprendizagem como um progresso na possibilidade de ingressar o jovem no mercado de trabalho, tendo assim diversos pontos positivos, desde que bem supervisionado e com responsabilidade de todos os abarcados no processo. Esse artigo busca a reflexão sobre a exploração do trabalho infantil e  suas reais conseqüências, analisando de que forma a legislação acerca do menor aprendiz pode contribuir para afastar tais prejuízos. Em síntese se  procura, sob a ótica dessas inovações legislativas que respaldam o trabalho do adolescente, compreender quais os impactos no desenvolvimento desses jovens quando submetidos a esse regime de aprendizagem. Com a implementação dessa e de outras políticas públicas voltadas para a integração do jovem ao mercado de trabalho e a contribuição da sociedade para a sua efetiva aplicação será possível a construção de uma nova realidade para o nosso país.


[RE] DESCOBRINDO O PARAGUAI.

Jaqueline Resmini Hansen
Graduanda do Curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Toledo

A presente pesquisa tem como objetivo elucidar questões referentes ao processo de transição para a democracia no Paraguai, voltando-se para uma problematização da análise brasileira perante tal processo. Para tanto, trabalha-se com o conceito de transição democrática, principalmente os apresentados por Adam Przerworski e Robert Dahl que, essencialmente, consideram o processo como a mudança de um regime totalitário para um democrático, a partir de transformações estruturais nas instituições, e, principalmente, na dinâmica política, entretanto, ressaltam que este não é um processo fácil, e um regime democrático não é o único fim possível, aonde se chegará irá depender de como este processo se articulou. Neste sentido, para articular uma melhor compreensão do processo é relevante, também, uma analise sobre a história da nação paraguaia, desde seu processo de colonização e independência, passando pelas causas e conseqüências da Guerra da Tríplice Aliança – ou Grande Guerra, como eles denominam – as quais tiveram influência de forma direta na organização do Estado paraguaio no final do século XIX e início do século XX, bem como, procura-se analisar a ascensão e queda do General Alfredo Stroessner ao poder, fato que nos leva ao início do processo de transição, ou seja, a derrubada de Stroessner após 35 anos de poder por intermédio de um golpe de Estado em 1989, e as conseqüentes modificações na constituição deste país, as quais datam de 1991.
 Sendo assim, tal reflexão se torna pertinente pelo fato da literatura especializada considerar que o Paraguai ainda não consolidou seu processo de transição democrática. Entretanto, parece que tal processo ganhou força para entrar em vias de consolidação a partir de 2008, com a eleição de Fernando Lugo para presidente, e a conseqüente derrubada da hegemonia do partido Colorado, que estava no poder a 61 anos, e, portanto, desde antes da longa ditadura chefiada pelo General Stroessner. Desta forma, o intuito desta pesquisa se revela como uma tentativa de entender, porque após 20 anos de iniciado o processo de transição democrática no Paraguai, só agora ele parece encontrar as vias que podem levá-lo a consolidação deste processo.


POLÍTICAS PÚBLICAS DE JUVENTUDE: ESTUDO DE CASO DO PROJOVEM EM TOLEDO

Jaqueline Aparecida Alves dos Santos
Graduada em Ciências Sociais, discente da Especialização Lato Sensu Planejamento Municipal e Políticas Públicas e mestranda do Programa de Mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná

O presente trabalho está sendo desenvolvido dentro da especialização em Planejamento Municipal e Políticas Públicas da Unioeste. O artigo apresenta os resultados parciais de um estudo de caso de um coletivo do Programa Projovem Adolescente desenvolvido no bairro Jardim Europa da cidade de Toledo. O estudo tem como objetivo realizar uma avaliação da efetividade do programa, ou seja, busca estudar a relação entre a política e o efeito na vida da população alvo, considerando os adolescentes envolvidos como o principal “informante”. No Brasil é incipiente a construção de políticas públicas específicas para jovens. A discussão avançou a partir dos anos de 1990 e desde 2004 este assunto vem ganhando mais destaque devido à produção de uma política nacional e iniciativas do governo federal. Porém, o que se observa na maior parte das abordagens referente aos jovens, tanto na parte da sua tematização quanto das políticas públicas, uma grande dificuldade de considerar efetivamente os jovens como sujeitos da história e envolvê-los no processo de construção e avaliação dessas políticas. No decorrer do século XX, a humanidade foi marcada por transformações e avanços tais como elevado desenvolvimento tecnológico-cultural e aprimoramento dos meios de comunicação, especialmente das telecomunicações.
Convive-se, no entanto, com uma realidade contraditória, em que o progresso tem se distribuído de forma desigual e sob a égide do neoliberalismo. Na América Latina esse princípio se reflete nas políticas públicas, nos aspectos sociais e culturais, interferindo no cotidiano das pessoas, marcando, na sociedade, um contexto de precarização, de desregulamentação e de flexibilização do mundo do trabalho, características essas do modelo neoliberal, gerando um agravamento das diversas expressões da questão social que afetam a população juvenil. A grande questão que se coloca em relação à criação de políticas públicas específicas para jovens é a distância entre as demandas deste segmento e as ações desenvolvidas pelo Estado. O Brasil deu passo significativo sendo pioneiro na construção efetiva das políticas públicas para a juventude, na América Latina, criando, em 1º de fevereiro de 2005, uma Comissão Especial no Congresso Nacional, destinada a acompanhar propostas de políticas para a juventude. Foram então criados o Conselho Nacional de Juventude, a Secretaria Nacional de Juventude e o Projovem, cujo objetivo primeiro é o de elaborar e implantar políticas voltadas para a população de mais de 34 milhões de pessoas de 15 a 29 anos de idade.
A necessidade de avaliação das políticas públicas no Brasil é parte dos resultados do processo de transição democrática. Entre os motivos que constitui a avaliação como um elemento necessário está os recursos escassos, a crescente exigência da população por resultados e principalmente para uma administração mais transparente. O desenvolvimento deste estudo focou metodologia qualitativa e quantitativa. A primeira metodologia utilizada para a realização da pesquisa foi o método da observação participante, realizada entre os meses de novembro e junho de 2011, no Centro de Referência da Assistência Social do bairro Jardim Europa, com o objetivo de acompanhar e analisar as atividades desenvolvidas, a frequência dos adolescentes e seus comportamentos. Posteriormente foi aplicado também um questionário com questões abertas e fechadas a todos os adolescentes do grupo. O objetivo era conhecer a opinião, o grau de satisfação e os impactos do programa na vida dos adolescentes envolvidos.


[2] Os projetos são vinculados ao CNPq na modalidade de Iniciação Científica, sob orientação da Profa. Dra. Yonissa M. Wadi: “A ´loucura´ como temática antropológica: um estudo de teses e dissertações (2000 – 2009)”, desenvolvido por Kamila Guimarães Schneider; e “Estudos sociológicos sobre a loucura: levantamento e analise de teses e dissertações (2000 – 2009)”, desenvolvido por Attiliana De Bona Casagrande.
[3]              O presente artigo foi fundamentado na pesquisa realizada junto ao PRUIC e no artigo de finalização da referida pesquisa.
[4]              SELLTIZ (1967, p.63, apud GIL 2002, p. 41)
[5]              Marconi e Lakatos (1999, p. 114) “... o que caracteriza o formulário é o contato face a face entre pesquisador e informante e ser o roteiro de perguntas preenchido pelo entrevistador, no momento da entrevista.”

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